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Capítulo 15: Capítulo 15

Página 470
Ega fez então um gesto rápido com os dedos significando «dinheiro, só questão de dinheiro». Carlos sossegou: e Ega voltou a falar dos inundados do Ribatejo e do sarau literário e artístico que em benefício deles se «ia cometer» no salão da Trindade... Era uma vasta solenidade oficial. Tenores do parlamento, rouxinóis da literatura, pianistas ornados com o hábito de S. Thiago, todo o pessoal canoro e sentimental do constitucionalismo ia entrar em fogo. Os reis assistiam, já se teciam grinaldas de camélias para pendurar na sala. Ele, apesar de demagogo, fora convidado para ler um episódio das Memórias de um Átomo: recusara-se, por modéstia, por não encontrar nas Memórias nada tão suficientemente palerma que agradasse à capital.

Mas lembrara o Cruges; e o maestro ia ribombar ou arrulhar uma das suas Meditações. Além disso havia uma poesia social pelo Alencar. Enfim, tudo prenunciava uma imensa orgia...

- E a Sr.ª D. Maria, acrescentou ele, devia ir!... É sumamente pitoresco. Tinha V. Ex.ª ocasião de ver todo o Portugal romântico e liberal, à la besogne, engravatado de branco, dando tudo que tem na alma!

- Com efeito devias ir, disse Carlos, rindo. Demais a mais se o Cruges toca, se o Alencar recita, é uma festa nossa...

- Pois está claro! gritou Ega, procurando o monóculo, já excitado. há duas coisas que é necessário ver em Lisboa... Uma procissão do Senhor dos Passos e um sarau poético!

Rolavam então pelo largo do Pelourinho. Carlos gritou ao cocheiro que parasse no começo da rua do Alecrim: eles apeavam-se e tomavam de lá o americano para o Ramalhete.

Mas a tipoia estacou antes da calçada, rente ao passeio, em frente de uma loja de alfaiate. E nesse instante achava-se aí parado, calçando as suas luvas pretas, um velho alto, de longas barbas de apostolo, todo vestido de luto. Ao ver Maria, que se inclinara á portinhola, o homem pareceu assombrado; depois, com uma leve cor na face larga e pálida, fitou gravemente o chapéu, um imenso chapéu de abas recurvas, à moda de 1830, carregado de crepe.

- Quem é? perguntou Carlos.

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 470

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605