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Capítulo 15: Capítulo 15

Página 469
E aquela aldeia de que nunca soubera o nome, tão quieta e feliz na luz, deu a Carlos um desejo repentino de sossego e de obscuridade, num canto assim do mundo, à beira de água, onde ninguém o conhecesse nem houvesse Cornetas do Diabo, e ele pudesse ter a paz de um simples e de um pobre debaixo de quatro telhas, no seio de quem amava...

Maria gritou por ele da janela da sala de jantar, onde se debruçara a apanhar uma das últimas rosas trepadeiras que ainda floriam.

- Que lindo tempo para viajar, Maria! - disse Carlos chegando, através da relva.

- Lisboa é também muito linda, agora, havendo sol...

- Pois sim, mas o Chiado, a coscuvilhice, os politiquetes, as gazetas, todos os horrores... A mim está-me positivamente a apetecer uma cubata na África!

O almoço, por fim, foi demorado. Ia bater uma hora quando a caleche do Torto começou a rolar na estrada, ainda encharcada da chuva da noite. Logo adiante da vila, na descida, cruzaram um coupé que trepava num trote esfalfado. Maria julgou avistar nele de relance o chapéu branco e o monóculo do Ega... Pararam. E era com efeito o Ega, que reconhecera também a caleche da Toca, vinha já saltitando as lamas com longas pernadas de cegonha, chamando por Carlos.

Ao ver Maria ficou atrapalhado:

- Que bela surpresa! Eu ia para lá... Vi o dia tão bonito disse comigo...

- Bem, paga a tua tipoia, vem connosco! atalhou Carlos que trespassava o Ega, com os olhos inquietos, querendo adivinhar o motivo daquela brusca chegada aos Olivais.

Quando entrou para a caleche, tendo pago o batedor, Ega, embaraçado, sem poder desabafar diante de Maria sobre o caso da Corneta, começou, sob os olhos de Carlos que o não deixavam, a falar do inverno, das inundações do Ribatejo... Maria lera. Uma desgraça, duas crianças afogadas nos berços, gados perdidos, uma grande miséria! Por fim Carlos não se conteve:

- Eu lá recebi a tua carta...

Ega acudiu:

- Arranja-se tudo! Está tudo combinado! E com efeito eu não vim senão por um sentimento bucólico...

Muito discretamente Maria olhara para o rio.

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pág. 469 (Capítulo 15)

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 469

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605