Os Maias - Cap. 15: Capítulo 15 Pág. 472 / 630

...

Fora pois ao antro. E encontrara as coisas dispostas pelas mãos hábeis de uma Providencia amiga. Primeiramente, depois de imprimir cinco ou seis números, a máquina, esfalfada na prática daquelas maroteiras, desmanchara-se. Além disso o bom Palma estava furioso com o cavalheiro que lhe encomendara o artigo, por divergência na seriíssima questão de pecúnia. De sorte que apenas ele propôs comprar a tiragem do jornal - o jornalista estendeu logo a mão larga, de unhas roídas, tremendo de reconhecimento e de esperança. Dera-lhe cinco libras que tinha, e a promessa de mais dez...

- É caro, mas que queres? continuou o Ega. Deixei-me atarantar, não regateei bastante... E enquanto a dizer quem é o cavalheiro que encomendou o artigo, o Palma, coitado, afirma que tem uma rapariga espanhola a sustentar, que o senhorio lhe levantou o aluguer da casa, que Lisboa está caríssima, que a literatura neste desgraçado país...

- Quanto quer ele?

- Cem mil reis. Mas, ameaçando-o com a polícia, talvez desça a quarenta.

- Promete os cem, promete tudo, contanto que eu tenha o nome... Quem te parece que seja?

Ega encolheu os ombros, deu um risco lento no chão com a bengala. E mais lentamente ainda foi considerando que o inspirador da Corneta devia ser alguém familiar com Castro Gomes; alguém frequentador da rua de S. Francisco; alguém conhecedor da Toca; alguém que tinha, por ciúme ou vingança, um desejo ferrenho de magoar Carlos; alguém que sabia a história de Maria; e enfim alguém que era um covarde...

- Estás a descrever o Dâmaso! exclamou Carlos, pálido e parando.

Ega encolheu de novo os ombros, tornou a riscar o chão:

- Talvez não... Quem sabe! Enfim, nós vamos averiguá-lo com certeza, porque, para terminar a negociação, fiquei de me ir encontrar com o Palma às três horas no Lisbonense... E o melhor é vires também. Trazes tu dinheiro?

- Se for o Dâmaso, mato-o! murmurou Carlos.





Os capítulos deste livro