O duelo devia ser à espada ou ao florete, um desses ferros cujo lampejo, na sala de armas do Ramalhete, fazia empalidecer o Dâmaso. Se contra toda a verosimilhança ele se batesse, Carlos fazia-lhe algures, entre a bochecha e o ventre, um furo que o cravasse meses na cama. Senão a única explicação que Carlos aceitaria do Sr. Salcede seria um documento em que ele escrevesse esta coisa simples: «Eu abaixo assinado declaro que sou um infame.» E para estes serviços Carlos contava com o Ega.
- Agradeço! Agradeço! Vamos a isso! exclamava o Ega esfregando as mãos, faiscando de júbilo.
No entanto, dizia ele, a etiqueta fúnebre reclamava outro padrinho; e lembrou o Cruges, moço passivo e maleável. Mas era impossível encontrar o maestro, porque invariavelmente a criada afirmava que o menino Victorino não estava em casa... Decidiram ir ao Grémio, mandar de lá um bilhete chamando o Cruges - «para um caso urgente de amizade e de arte».
- Com quê, dizia o Ega continuando a esfregar as mãos enquanto a tipoia trotava para a rua de S. Francisco, com quê, demolir o nosso Dâmaso?
- Sim, é necessário acabar com esta perseguição. Chega a ser ridículo... E com uma estocada, ou com a carta, temos esse biltre aniquilado por algum tempo. Eu preferia a estocada. Senão deixo-te a ti arranjar os termos de uma carta forte...
- Hás de ter uma boa carta! disse o Ega com um sorriso de ferocidade.
No Grémio, depois de redigirem o bilhete ao Cruges, vieram esperar por ele na sala das Ilustrações. O conde de Gouvarinho e Steinbroken conversavam de pé, no vão de uma janela. E foi uma surpresa. O ministro da Finlândia abriu os braços para o cher Maia, que ele não vira desde a partida de Afonso para Santa Olávia. Gouvarinho acolheu o Ega risonhamente, reatando uma certa camaradagem que entre eles se formara nesse verão, em Sintra: mas o aperto de mão a Carlos foi seco e curto. Já dias antes, tendo-se encontrado no Loreto, o Gouvarinho murmurara de leve e de passagem «um como está, Maia?» em que se sentia arrefecimento.