Os Maias - Cap. 15: Capítulo 15 Pág. 478 / 630

Ah! já não eram essas efusões, essas palmadas enternecidas pelos ombros, dos tempos em que Carlos e a condessa fumavam cigaretes na cama da titi em Santa Isabel. Agora que Carlos abandonara a Sr.ª condessa de Gouvarinho, a rua de S. Marçal e o cómodo sofá em que ela caía com um rumor de saias amarrotadas - o marido amuava, como abandonado também.

- Tenho tido saudade das nossas belas discussões em Sintra! disse ele, dando ao Ega a palmada carinhosa nas costas que outrora pertencia ao Maia. Tivemo-las de primeira ordem!

Eram realmente «pegas tremendas» no pátio do Victor sobre literatura, sobre religião, sobre moral... Uma noite mesmo tinham-se zangado por causa da divindade de Jesus.

- É verdade! acudiu o Ega. Você nessa noite parecia ter às costas uma opa de irmão do Senhor dos Passos!

O conde sorriu. Irmão do Senhor dos Passos não, graças a Deus! Ninguém melhor do que ele sabia que nesses sublimes episódios do Evangelho reinava bastante lenda... Mas enfim eram lendas que serviam para consolar a alma humana. É o que ele objectara nessa noite ao amigo Ega... Sentiam-se a filosofia e o racionalismo capazes de consolar a mãe que chora? Não. Então...

-Em todo o caso, tivemo-las brilhantes! concluiu ele olhando o relógio. E, eu confesso, uma discussão elevada sobre religião, sobre metafísica, encanta-me... Se a política me deixasse vagares dedicava-me à filosofia... Nasci para isso, para aprofundar problemas.

Steinbroken no entanto, esticado na sua sobrecasaca azul, com um raminho de alecrim ao peito, tomara as mãos de Carlos:

- ?

E imediatamente lamentou não ter visitado Santa Olávia. Mas quê! a família real instalara-se em Sintra; ele fora forçado a acompanhá-la, fazer a sua corte... Depois necessitara ir de fugida a Inglaterra de onde acabava de chegar, havia dias.

Sim, Carlos sabia, vira na Gazeta Ilustrada...

- Vous avez lu ça? Oh oui, on a été très aimable, très aimable pour moi à la Gazete...





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