Os Maias - Cap. 15: Capítulo 15 Pág. 481 / 630

- Essa, nunca! prosseguiu ele, muito compenetrado. Para se poder falar de alto na Europa, como ministro dos Estrangeiros, é necessário ter por traz um exército de duzentos mil homens e uma esquadra com torpedos. Nós, infelizmente, somos fracos... E eu, para papeis subalternos, para que venha um Bismarck, um Gladstone, dizer-me «há de ser assim», não estou!... Pois não acha, Steinbroken?

O ministro tossiu, balbuciou:

- Certainement... C'est très grave... C'est excessivement grave...

Ega então afirmou que o amigo Gouvarinho, com o seu interesse geográfico pela África, faria um ministro da Marinha iniciador, original, rasgado...

Toda a face do conde reluzia, escarlate de prazer.

- Sim, talvez... Mas eu lhe digo, meu querido Ega, nas colónias todas as coisas belas, todas as coisas grandes estão feitas.

Libertaram-se já os escravos; deu-se-lhes já uma suficiente noção da moral cristã; organizaram-se já os serviços aduaneiros... Enfim o melhor está feito. Em todo o caso há ainda detalhes interessantes a terminar... Por exemplo, em Luanda... Menciono isto apenas como um pormenor, um retoque mais de progresso soa dar. Em Luanda precisava-se bem um teatro normal como elemento civilizador!

Nesse momento um criado veio anunciar a Carlos - que o Sr. Cruges estava em baixo, no portal, à espera. Imediatamente os dois amigos desceram.

- Extraordinário, este Gouvarinho! Dizia o Ega na escada.

- E este, observou Carlos com um imenso desdém de mundano, é um dos melhores que há na política. Pensando mesmo bem, e metendo a roupa branca em linha de conta, este é talvez o melhor.

Acharam o Cruges à porta, de jaquetão claro, embrulhando um cigarro. E Carlos pediu-lhe logo que voltasse a casa vestir uma sobrecasaca preta. O maestro arregalava os olhos.

- É jantar?

- É enterro.





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