Os Maias - Cap. 15: Capítulo 15 Pág. 482 / 630

E rapidamente, sem aludir a Maria, contaram ao maestro que o Dâmaso publicara num jornal, a Corneta do Diabo (cuja tiragem eles tinham suprimido, não sendo possível por isso mostrar o número imundo) um artigo em que a coisa mais doce que se chamava a Carlos era pulha. Portanto Ega e ele Cruges iam a casa do Dâmaso pedir-lhe a honra ou a vida.

- Bem, rosnou o maestro. Que tenho eu a fazer?... Que eu dessas coisas não entendo.

- Tens, explicou Ega, de ir vestir uma sobrecasaca preta e franzir o sobrolho. Depois vir comigo; não dizer nada; tratar o Dâmaso por «V. Ex.ª»; assentar em tudo o que eu propuser; e nunca desfranzir o sobrolho nem despir a sobrecasaca...

Sem outra observação, Cruges partiu a cobrir-se de cerimónia e de negro. Mas no meio da rua retrocedeu:

- Ó Carlos, olha que eu falei lá em casa. Os quartos do primeiro andar estão livres, e forrados de papel novo...

- Obrigado. Vai-te fazer sombrio, depressa!... O maestro abalara, quando diante do Grémio estacou a todo o trote uma caleche.

De dentro saltou o Teles da Gama que, ainda com a mão no fecho da portinhola, gritou aos dois amigos:

- O Gouvarinho? Está lá em cima?

- Está... Novidade fresca?

- Os homens caíram. Foi chamado o Sá Nunes!

E enfiou pelo pátio, correndo. Carlos e Ega continuaram devagar até ao portão do Cruges. As janelas do primeiro andar estavam abertas, sem cortinas. Carlos, erguendo para lá os olhos, pensava nessa tarde das corridas em que ele viera no fáeton, de Belém, para ver aquelas janelas: ia então escurecendo, por traz dos estores fechados surgira uma luz, ele contemplara-a como uma estrela inacessível... Como tudo passa!

Retrocederam para o Grémio. Justamente o Gouvarinho e Teles atiravam-se à pressa para dentro da caleche que esperara. Ega parou, deixou cair os braços:

- Lá vai o Gouvarinho batendo para o Poder, a mandar representar a Dama das Camélias no sertão! Deus se amerceie de nós!





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