Os Maias - Cap. 15: Capítulo 15 Pág. 485 / 630

- Na Corneta, eu? acudiu o Dâmaso, balbuciando. Que Corneta? Nunca escrevi em jornais, graças a Deus! Ora essa, a Corneta!...

Ega, muito friamente, tirou do bolso um maço de papéis. E veio colocá-los um por um, ao lado do Dâmaso, na mesa, sobre um magnífico volume da Bíblia de Doré.

- Aqui está a sua carta remetendo ao Palma Cavalão o rascunho do artigo... Aqui está, pela sua letra igualmente, a lista das pessoas a quem se devia mandar a Corneta, desde o Rei até à Fanceli... Além disso nós temos as declarações do Palma. O Dâmaso é não só o inspirador, mas materialmente o autor do artigo... O nosso amigo Carlos da Maia exige, pois, como injuriado, uma reparação pelas armas...

Dâmaso deu um salto da poltrona, tão arrebatado - que involuntariamente Ega recuou, no receio de uma brutalidade. Mas já o Dâmaso estava no meio da sala, esgazeado, com os braços trémulos no ar:

- Então o Carlos manda-me desafiar? A mim?... Que lhe fiz eu? Ele a mim é que me pregou uma partida!... Foi ele, vocês sabem perfeitamente que foi ele!...

E desabafou, num prodigioso fluxo de loquacidade, atirando palmadas ao peito, com os olhos marejados de lágrimas. fora Carlos, Carlos, que o desfeiteara a ele, mortalmente! Durante todo o inverno tinha-o perseguido para que ele o apresentasse a uma senhora brasileira muito chic, que vivia em Paris, e que lhe fazia olho... E ele, bondoso como era, prometia, dizia: «Deixa estar, eu te apresento!» Pois, senhores, que faz Carlos? Aproveita uma ocasião sagrada, um momento de luto, quando ele Dâmaso fora ao Norte por causa da morte do tio, e mete-se dentro da casa da brasileira... E tanto intriga, que leva a pobre senhora a fechar-lhe a sua porta, a ele, Dâmaso, que era íntimo do marido, íntimo de tu! Caramba, ele que devia mandar desafiar Carlos! Mas não! fora prudente, evitara o escândalo por causa do Sr. Afonso da Maia... Queixara-se de Carlos, é verdade... Mas no Grémio, na Casa Havaneza, entre rapaziada amiga... E no fim Carlos prega-lhe uma destas!

- Mandar-me desafiar, a mim! A mim, que todo o mundo conhece!...





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