Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 15: Capítulo 15

Página 499
E Ega, deixando o Craft e Taveira com a genebra, correu à plateia para descobrir o camarote da Alvim.

Mal erguera porém a cortina e assestara o monóculo - avistou defronte, na primeira ordem, a Cohen, toda de preto, com um grande leque de rendas brancas; por traz negrejavam as suíças fortes do marido; e em face dela, recostado no veludo da grade, de casaca, com a bochecha risonha, uma grossa pérola no peitilho da camisa, o Dâmaso, o bêbedo!

Ega caiu molemente, ao acaso, na borda de uma cadeira: e perturbado, já esquecido da Alvim, ali ficou a olhar o pano coberto de anúncios, correndo os dedos trémulos pelo bigode.

No entanto a campainha retinia, a gente vagarosamente reentrava na plateia. Um cavalheiro gordo e carrancudo tropeçou no joelho do Ega: outro, de luvas claras, com uma polidez adocicada, pediu permissão a s. Ex.ª Ele não escutava, não percebia: os seus olhos, um momento errantes, tinham-se enfim cravado no camarote da Cohen e não se desviaram de lá, numa emoção que o empalidecia.

Não a tornara a encontrar desde Sintra, onde só a via de longe, com vestidos claros sob o verde das árvores; e agora ali, toda de preto, em cabelo, com um decote curto onde brilhava a perfeita brancura do seu colo, ela era outra vez a sua Rachel, dos tempos divinos da vila Balzac. Era assim que ele, todas as noites em S. Carlos, a contemplava do fundo da frisa de Carlos, com a cabeça encostada ao tabique, saturado de felicidade. Lá tinha a sua luneta de ouro, presa por um fio de ouro. Parecia mais pálida, mais delicada, com o longo quebranto dos olhos pisados, o seu ar de romance e de lírio meio murcho: e como então os seus cabelos magníficos e pesados caíam habilmente numa massa meia solta sobre as costas, num desalinho de nudez. Pouco a pouco, entre o afinar de rebecas e o rumor das cadeiras Ega revia, numa onda de recordações que o sufocava, o grande leito da vila Balzac, certos beijos e certos risos, as perdizes comidas em camisa à borda do sofá, e a melancolia deliciosa das tardes, quando ela saía furtivamente, coberta de véus, e ele ficava, cansado, no crepúsculo poético do quarto, cantarolando a Traviata...

<< Página Anterior

pág. 499 (Capítulo 15)

Página Seguinte >>

Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 499

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605