Os Maias - Cap. 15: Capítulo 15 Pág. 498 / 630

- Bilhete para o Ginásio! Mais barato... Bilhete para o Ginásio! Quem vende?...

Havia um cruzar animado de carruagens com librés. Os bicos de gaz do Ginásio tinham um fulgor de festa. E Ega deu de rosto com o Craft que atravessava do lado do Loreto, de gravata branca e flor no paletó.

- Que é isto?

- Festa de beneficência, não sei, disse o Craft. Uma coisa promovida por senhoras, a baronesa d'Alvim mandou-me um bilhete...

Venha você daí ajudar-me a levar esta caridade ao Calvário.

E na esperança de flirtar com a Alvim, Ega comprou logo uma senha. No peristilo do Ginásio encontraram Taveira passeando e fumando solitariamente, à espera que findasse a primeira comédia, o Fruto proibido. Então Craft propôs «botequim e genebra».

- E que há do ministério? perguntou ele, apenas abancaram a um canto.

O Taveira não subiu. Todos esses dois longos dias se intrigara desesperadamente. O Gouvarinho queria as Obras Publicas: o Videira também. E falava-se de uma cena terrível por causa de sindicatos, em casa do presidente do conselho, o Sá Nunes, que terminara por dar um murro na mesa, gritar: «Irra! que isto não é o pinhal da Azambuja!»

- Canalha! rosnou Ega com odio.

Depois falaram do Ramalhete, da volta de Afonso, da reaparição do Carlos. Craft louvou Deus por haver outra vez nesse inverno uma casa com fogões, onde se passasse uma hora civilizada e inteligente.

Taveira acudiu com o olho brilhante:

- Diz que vamos ter um centrozinho muito mais interessante ainda, na rua de S. Francisco! Foi o marquês que me disse. Madame Mac-Gren vai receber.

Craft não sabia mesmo que ela já tivesse recolhido da Toca.

- Voltou hoje, disse o Ega. Você ainda não a conhece?... Encantadora.

- Creio que sim.

O Taveira vira-a de relance no Chiado. Parecera-lhe uma beleza. E um ar tão simpático!

- Encantadora! repetiu Ega.

Mas o Fruto proibido findara, os homens enchiam o peristilo, num rumor lento, acendendo os cigarros.





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