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Capítulo 15: Capítulo 15

Página 501

Dentro do pátio desse jornal elegante fedia. Na escadaria de pedra, sem luz, cruzou um sujeito encatarrado que lhe disse que o Neves estava em cima ao cavaco. O Neves, deputado, político, director da Tarde, fora, havia anos, numas férias, seu companheiro de casa no largo do Carmo; e desde esse verão alegre em que o Neves lhe ficara sempre devendo três moedas, os dois tratavam-se por tu.

Foi encontrá-lo numa vasta sala alumiada por bicos de gás sem globo, sentado na borda numa mesa atulhada de jornais, com o chapéu para a nuca, discursando a alguns cavalheiros de província que o escutavam de pé, num respeito de crentes. Num vão de janela, com dois homens de idade, um rapaz esgalgado, de jaquetão de cheviote claro e uma cabeleira crespa que parecia erguida numa rajada de vento, bracejava como um moinho na crista de um monte. E, abancado, outro sujeito já calvo rascunhava laboriosamente uma tira de papel.

Ao ver o Ega (um íntimo do Gouvarinho) ali na redacção, naquela noite de intriga e de crise, Neves cravou nele os olhos tão curiosos, tão inquietos, que o Ega apressou-se a dizer:

- Nada de política, negócio particular... Não te interrompas. Depois falaremos.

O outro findou a injúria que estava lançando ao José Bento, «essa grande besta que fora meter tudo no bico da amiga do Sousa e Sá, o par do reino» - e na sua impaciência saltou da mesa, travou do braço do Ega arrastando-o para um canto:

- Então que é?

- É isto, em quatro palavras. O Carlos da Maia foi ofendido aí por um sujeito muito conhecido. Nada de interessante. Um parágrafo imundo na Corneta do Diabo, por uma questão de cavalos... O Maia pediu-lhe explicações. O outro deu-as, chatas, medonhas, numa carta que quero que vocês publiquem.

A curiosidade do Neves flamejou:

- Quem é?

- O Dâmaso.

O Neves recuou de assombro:

- O Dâmaso!? Ora essa! Isso é extraordinário! Ainda esta tarde jantei com ele! Que diz a carta?

- Tudo. Pede perdão, declara que estava bêbedo, que é de profissão um bêbedo...

O Neves agitou as mãos com indignação:

- E tu querias que eu publicasse isso, homem? O Dâmaso, nosso amigo político!...

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pág. 501 (Capítulo 15)

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 501

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605