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Capítulo 15: Capítulo 15

Página 502
E que não fosse, não é questão de partido, é de decência! Eu faço lá isso!... Se fosse uma acta de duelo, uma coisa honrosa, explicações dignas... Mas uma carta em que um homem se declara bêbedo! Tu estás a mangar!

Ega, já furioso, franzia a testa. Mas o Neves, com todo o sangue na face, teve ainda uma revolta àquela ideia do Dâmaso se declarar bêbedo.

- Isso não pode ser! É absurdo! Aí há história... Deixa ver a carta.

E, mal relanceara os olhos ao papel, à larga assinatura floreada, rompeu num alarido:

- Isto não é o Dâmaso nem é letra do Dâmaso!... «Salcede»! Quem diabo é «Salcede»? Nunca foi o meu Dâmaso!

- É o meu Dâmaso, disse o Ega. O Dâmaso Salcede, um gordo...

O outro atirou os braços ao ar:

- O meu é o Guedes, homem, o Dâmaso Guedes! Não há outro! Que diabo, quando se diz o Dâmaso é o Guedes!...

Respirou com grande alivio:

- Irra, que me assustaste! Olha agora neste momento, com estas coisas de ministério, uma carta dessas escrita pelo Guedes... Se é o Salcede, bem, acabou-se! Espera lá... Não é um gordalhufo, um janota que tem uma propriedade em Sintra? Isso! Um maganão que nos entalou na eleição passada, fez gastar ao Silvério mais de trezentos mil reis... Perfeitamente, às ordens... Ó Pereirinha, olhe aqui o Sr. Ega. Tem aí uma carta para sair amanhã, na primeira página, tipo largo...

O Sr. Pereirinha lembrou o artigo do Sr. Vieira da Costa sobre a «Reforma das Pautas».

- Vai depois! gritou o Neves. As questões de honra antes de tudo!

E voltou ao seu grupo onde agora se falava do conde de Gouvarinho, saltou para a borda da mesa, lançou logo o seu vozeirão de chefe, afirmando no Gouvarinho enormes dotes de parlamentar!

Ega acendeu o charuto, ficou um momento considerando aqueles sujeitos que pasmavam para o verbo do Neves. Eram decerto deputados que a crise arrastara a Lisboa, arrancara à quietação das vilas e das quintas. O mais novo parecia um pote, vestido de casimira fina, com uma enorme face a estourar de sangue, jucundo, crasso, lembrando ares sadios e lombo de porco.

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 502

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605