Os Maias - Cap. 15: Capítulo 15 Pág. 505 / 630

Não, nas Revistas Criticas: ou então nos jornais - que fossem jornais, não papeluchos volantes, tendo em cima uma cataplasma de política em estilo mazorro ou em estilo fadista, um romance mal traduzido do francês por baixo e o resto cheio com «anos», despachos, parte de polícia e loteria da Misericórdia. E como em Portugal não havia nem jornais sérios nem Revistas Criticas - que se não falasse em parte nenhuma.

- Com efeito, murmurou Melchior, ninguém fala de nada, ninguém parece pensar em nada...

E com toda a razão, afirmou Ega. Certamente muito desse silêncio provinha do natural desejo que têm os que são medíocres de que se não aluda muito aos que são grandes. É a invejazinha reles e rastejante! Mas em geral o silêncio dos jornais para com os livros provém sobretudo deles terem abdicado todas as funções elevadas de estudo e de critica, de se terem tornado folhas rasteiras de informação caseira, e de sentirem por isso a sua incompetência...

- Está claro, não falo por você, Melchior, que é dos nossos e de primeira ordem! Mas os seus colegas, menino, calam-se por se saberem incompetentes...

O Melchior ergueu os ombros com um ar cansado e descrente:

- Calam-se também porque o publico não se importa, ninguém se importa...

Ega protestou, já excitado. O Publico não se importava!? Essa era curiosa! O Publico então não se importa que lhe falem de livros que ele compra aos três mil, aos seis mil exemplares? E isto, dada a população de Portugal, caramba, é igual aos grandes sucessos de Paris e de Londres... Não, Melchiorzinho amigo, não! Esse silêncio diz ainda mais claramente e retumbantemente que as palavras: «Nós somos incompetentes. Nós estamos bestializados pela noticia do Sr. conselheiro que chegou ou do Sr. conselheiro que partiu, pelos High-lifes, pela amabilidade dos donos da casa, pelo artigo de fundo em descompostura e calão, por toda esta prosa chula em que nos atolamos... Nós não sabemos, não podemos já falar de uma obra de arte ou de uma obra de história, deste belo livro de versos ou deste belo livro de viagens. Não temos nem frases nem ideias. Não somos talvez cretinos - mas estamos cretinizados. A obra de literatura passa muito alto - nós chafurdamos aqui muito em baixo...»





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