E no murmúrio de admiração que se ergueu destacou um ganido - o do rapaz mais grosso que um pote, que mexia os ombros, chasqueava com uma risota na bochecha cor de tomate:
- Pois, senhores, o que esse conde de Gouvarinho me sai é um grandíssimo carola!
E em redor correram sorrisos entre os cavalheiros de província, liberais e finórios, que achavam aquele fidalgo excessivamente apegado à cruz. Mas já o Neves, de pé, bravejava:
- Carola! Vem-nos agora o menino gordo com carola!... O Gouvarinho carola! Está claro que tem toda a orientação mental do século, é um racionalista, um positivista... Mas a questão aqui é a réplica, a táctica parlamentar! Desde que o tipo da maioria vem de lá com a descoberta do trapézio, Gouvarinho amigo, ainda que fosse tão ateu como Renan, zás! atira-lhe logo para cima com a cruz!...
Isto é que é a estratégia parlamentar! Pois não é assim, Ega?
Ega murmurou, através do fumo do charuto:
- Sim, com efeito a cruz para isso ainda serve...
Mas nesse momento o sujeito calvo, que repelira a tira de papel e se espreguiçava, caído para as costas da cadeira, exausto, pediu ao Sr. João da Ega - que falasse à gente e guardasse o seu dinheiro...
Ega acercou-se logo daquele simpático homem, tão engraçado, tão querido de todos:
- Então, na grande faina, Melchior?
- Estou aqui a ver se faço uma coisa sobre o livro do Craveiro, os Cantos da Serra, e não me sai nada em termos... Não sei o que hei de dizer!
Ega gracejou, de mãos nos bolsos, muito risonho, muito camarada com o Melchior:
- Nada! Vocês aqui são simples localistas, noticiaristas, anunciadores. De um livro como o do Craveiro têm só respeitosamente a dizer onde se vende e quanto custa.
O outro considerou o Ega ironicamente, com os dedos cruzados por traz da nuca:
- Então onde queria você que se falasse dos livros?... Nos reportórios?