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Capítulo 16: Capítulo 16

Página 514
Positivamente, menino, vamo-nos tornar grandes cidadãos!...

- Se me quiserem erguer uma estátua, disse Carlos alegremente, que seja aqui na rua de S. Francisco... Que beleza de noite!

Pararam à porta do teatro da Trindade no momento em que, de uma tipoia de praça, se apeava um sujeito de barbas de apostolo, todo de luto, com um chapéu de largas abas recurvas à moda de 1830. Passou junto dos dois amigos sem os ver, recolhendo um troco á bolsa. Mas Ega reconheceu-o.

- É o tio do Dâmaso, o demagogo! Belo tipo!

- E segundo o Dâmaso, um dos bêbedos da família, lembrou Carlos rindo.

Por cima, de repente, no salão, estalaram grandes palmas. Carlos, que dava o paletó ao porteiro, receou que já fosse o Cruges...

- Qual! disse o Ega. Aquilo é aplaudir de retórica!

E com efeito, quando pela escada ornada de plantas chegaram ao ante-salão, onde dois sujeitos de casaca passeavam em bicos de pés, segredando - sentiram logo um vozeirão túmido, garganteado, provinciano, de vogais arrastadas em canto, invocando lá do fundo, do estrado, «a alma religiosa de Lamartine!...»

- É o Rufino, tem estado soberbo! murmurou o Teles da Gama que não passara da porta, com o charuto escondido atrás das costas.

Carlos, sem curiosidade, ficou junto do Teles. Mas Ega, esguio e magro, foi rompendo pela coxia tapetada de vermelho. D'ambos os lados se cerravam filas de cabeças, embebidas, enlevadas, atulhando os bancos de palhinha até junto ao tablado, onde dominavam os chapéus de senhoras picados por manchas claras de plumas ou flores. Em volta, de pé, encostados aos pilares ligeiros que sustêm a galeria, reflectidos pelos espelhos, estavam os homens, a gente do Grémio, da Casa Havaneza, das Secretarias, uns de gravata branca, outros de jaquetões. Ega avistou o Sr. Sousa Neto, pensativo, sustentando entre dois dedos a face escaveirada, de barba rala; adiante o Gonçalo, com a sua gaforinha ao vento; depois o marquês atabafado num cachenés de seda branca; e, num grupo, mais longe, rapazes do Jockey Club, os dois Vargas, o Mendonça, o Pinheiro, assistindo àquele sport da eloquência com uma mistura de assombro e tédio.

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 514

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605