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- Oh meu caro senhor! exclamou Ega, batendo com o dinheiro na mesa para chamar o criado. Pelo contrário! O maior prazer em proclamar diante do Alencar, e aos quatro ventos, que lhe acho a cara de um perfeito cavalheiro e de um patriota!
Então trocaram um rasgado aperto de mãos - enquanto o Sr. Guimarães afirmava a sua satisfação por conhecer o Sr. João da Ega, moço de tantos dotes e tão liberal. E quando s. Ex.ª quisesse qualquer coisa, política ou literária, era escrever este endereço bem conhecido no mundo:
- Redaction du RAPEL, Paris!
Alencar abalara. E os dois deixaram o botequim, trocando impressões do sarau. O Sr. Guimarães estava enojado com a carolice, a sabujice desse Rufino. Quando o ouvira palrar das asas da princesa e da cruz do adro, quase lhe gritara cá do fundo: «Quanto te pagam para isso, miserável?»
Mas de repente Ega estacou na escada, tirando o chapéu:
- Oh Sr.ª baronesa, então já nos abandona?
Era a Alvim que descia devagar, com a Joaninha
Vilar, atando as largas fitas de uma capa de pelúcia verde. Queixou-se de uma dor de cabeça que a torturava, apesar de ter gostado loucamente do Rufino... Mas uma noite toda de literatura, que estafa! E agora, para mais, ficara lá um homenzinho a fazer música clássica...
- É o meu amigo Cruges!
- Ah! é seu amigo? Pois olhe, devia-lhe ter dito que tocasse antes o Pirolito.
- V. Ex.ª aflige-me com esse desdém pelos grandes mestres... Não quer que a vá acompanhar à carruagem? Paciência... Muito boa noite, Sr.ª D. Joana!... Um servo seu, Sr.ª baronesa! E Deus lhe tire a sua dor de cabeça!
Ela voltou-se ainda no degrau, para o ameaçar risonhamente com o leque:
- Não seja impostor! O Sr. Ega não acredita em Deus.
- Perdão... Que o Diabo lhe tire a sua dor de cabeça, Sr.ª baronesa!
O velho democrata desaparecera discretamente. E da antessala Ega avistou logo ao fundo, no tablado, sobre um mocho muito baixo que lhe fazia roçar pelo chão as longas abas da casaca - o Cruges, com o nariz bicudo contra o caderno da Sonata, martelando sabiamente o teclado.