Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 16: Capítulo 16

Página 521
Mas acredite que hei de tirar uma vingança que há de ser falada!

Ainda não decidi qual, nesta atarantação; mas em todo o caso a nossa família há de ficar desenxovalhada, porque eu nunca admiti que ninguém brincasse com a minha dignidade... E se o não fiz já antes de partir para Itália, se ainda não pugnei pela minha honra, é porque há dias, com todos estes abalos, veio-me uma tremenda disenteria, que estou que me não tenho nas pernas. Isto por cima dos meus males morais!...» V. Ex.ª ri-se, Sr. Ega?

- Pois que quer V. Ex.ª que eu faça? balbuciou o Ega por fim, sufocado, com os olhos em lágrimas. Rio-me eu, ri-se o Alencar, ri-se V. Ex.ª. Isso é extraordinário! Essa dignidade, essa disenteria...

O Sr. Guimarães, embaçado, olhou o Ega, olhou o poeta que fungava sob os longos bigodes, e terminou por dizer:

- Com efeito, a carta é de uma cavalgadura... Mas o facto permanece...

Então Ega apelou para o bom senso do Sr. Guimarães, para a sua experiência das coisas de honra. Compreendia ele que dois cavalheiros, indo desafiar um homem a sua casa, lhe agarrem no pulso, o forcem violentamente a assinar uma carta em que ele se declara bêbedo?...

O Sr. Guimarães, agradado com aquela deferência pelo seu tacto e pela sua experiência, confessou que o caso, pelo menos em Paris, seria pouco natural.

- E em Lisboa, senhor! Que diabo, isto não é a Cafraria! E diga-me o Sr. Guimarães outra coisa, de gentleman para gentleman:

como considera seu sobrinho? um homem irrepreensivelmente verídico?

O Sr. Guimarães cofiou as barbas, declarou lealmente:

- Um refinado mentiroso.

- Então! gritou Ega em triunfo, atirando os braços ao ar.

De novo Alencar interveio. A questão parecia-lhe satisfatoriamente finda. E não restava senão os dois apertarem-se a mão fraternalmente, como bons democratas...

Já de pé, atirou a genebra às guelras. Ega sorria, estendia a mão ao Sr. Guimarães. Mas o velho demagogo, ainda com uma sombra na face enrugada, desejou que o Sr. João da Ega (se nisso não tinha duvida) declarasse, ali diante do amigo Alencar, que não lhe achava a ele, Guimarães, cara de bêbedo...

<< Página Anterior

pág. 521 (Capítulo 16)

Página Seguinte >>

Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 521

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605