Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 16: Capítulo 16

Página 530
Ao passar, ela lembrou a Carlos as suas «terças-feiras», com a delicada simplicidade de um dever. Ele curvou-se em silêncio. Era como se todo o passado, o sofá que rolava, a casa da titi em Santa Isabel, as tipoias em que ela deixava o seu cheiro de verbena - fossem coisas lidas por ambos num livro e por ambos esquecidas. Atrás, o marido seguiu, erguendo alto a cabeça e as lunetas, como representante do Poder naquela festa da Inteligência.

- Pois senhores, disse o Ega afastando-se com Carlos, a mulherzinha tem topete!

- Que diabo queres tu? Atravessou a sua hora de tolice e de paixão, e agora continua tranquilamente na rotina da vida.

- E na rotina da vida, concluiu Ega, encontra-se a cada passo contigo, que a viste em camisa!... Bonito mundo!

Mas o Alencar apareceu no alto da escada, voltando do botequim e da genebra, com um brilho maior no olho cavo, de paletó no braço, já preparado para gorjear. E o marquês juntou-se a eles, abafado no cachenés de seda branca, mais rouco, queixando-se de que a cada minuto a garganta se lhe punha pior... Aquela canalha daquela garganta ainda lhe vinha a pregar uma!...

Depois, muito sério, considerando o Alencar:

- Ouve lá, isso que tu vais recitar, a Democracia é política ou sentimento? Se é política, raspo-me. Mas se é sentimento, e a humanidade, e o santo operário, e a fraternidade, então fico, que disso gosto e até talvez me faça bem.

Os outros afirmaram que era sentimento. O poeta tirou o chapéu, passou os dedos pelos anéis fofos da grenha inspirada:

-Eu vos digo, rapazes... Uma coisa não vai sem a outra, vejam vocês Danton!... Mas já não falo enfim desses leões da Revolução. Vejam vocês o Passos Manoel! Está claro, é necessário logica... Mas, também, caramba, sebo para uma política sem entranhas e sem um bocado de infinito!

Subitamente, por sobre o novo silêncio da sala, um vozeirão mais forte que o do Rufino fez retumbar os grandes nomes de D. João de Castro e de Afonso de Albuquerque... Todos se acercaram da porta, curiosamente.

<< Página Anterior

pág. 530 (Capítulo 16)

Página Seguinte >>

Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 530

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605