Ele conde estava encantado! Encantado sobretudo com a variedade de escala, aquela arte tão difícil de passar do solene para o ameno, de descer das grandes rajadas para os brincados de linguagem. Extraordinário!
- Tenho ouvido grandes parlamentares, o Rouher, o Gladstone, o Canovas, outros muitos. Mas não são estes voos, esta opulência... É tudo muito seco, ideias e factos. Não entra na alma! Vejam os amigos aquela imagem tão pujante, tão respeitosa, do Anjo da Esmola, descendo devagar, com as asas de cetim... É de primeira ordem.
Ega não se conteve:
- Eu acho esse génio um imbecil.
O conde sorriu, como à tontaria de uma criança:
- São opiniões...
E estendeu em redor as mãos ao Sousa Neto, ao Darque, ao Teles da Gama, a outros que se juntavam ao rancho íntimo - enquanto os seus correligionários, os seus colegas do Centro e da Câmara, o Gonçalo, o Neves, o Vieira da Costa rondavam de longe, sem poder roçar pelo ministro que tinham criado, agora que ele conversava e ria com rapazes e senhoras da «sociedade». O Darque, que era parente do Gouvarinho, quis saber como o amigo Gastão se ia dando com os encargos do Poder... O conde declarou para os lados que não fizera mais por ora do que passar em revista os elementos com que contava para atacar os problemas... De resto, em questões de trabalho, o ministério fora infelicíssimo! O presidente do conselho de cama com uma catarreira, inútil para uma semana. Agora o colega da fazenda com as febres do Aterro...
- Está melhor? Já sai? foi em torno a pergunta cheia de cuidado.
- Está na mesma, vai amanhã para o Dafundo. Mas realmente esse não se acha de todo inutilizado. Ainda ontem eu lhe dizia:
«Você parte para o Dafundo, leva os seus papeis, os seus documentos... Pela manhã dá os seus passeios, respira o bom ar... E à noite, depois de jantar, à luz do candeeiro, entretém-se a resolver a questão de fazenda!»
Uma campainha retiniu. D. José Sequeira, escarlate de azafama, veio, furando, anunciar a s. Ex.ª o fim do intervalo - oferecer o braço à Sr.ª condessa.