Os Maias - Cap. 17: Capítulo 17 Pág. 553 / 630

- Bem, gritou ao cocheiro, vai ao café Tavares...

No Tavares, ainda solitário àquela hora, um moço areava o sobrado. E enquanto esperava o almoço Ega percorreu os jornais. Todos falavam do sarau, em linhas curtas, prometendo detalhes críticos, mais tarde, sobre esse brilhante torneio artístico. Só a Gazeta

Ilustrada se alargava, com frases sérias, tratando o Rufino de grandioso o Cruges de esperançoso: no Alencar a Gazeta separava o filosofo do poeta; ao filosofo a Gazeta lembrava com respeito que nem todas as aspirações ideais da filosofia, belas como

miragens de deserto, são realizáveis na pratica social; mas ao poeta, ao criador de tão formosas imagens, de tão inspiradas estâncias, a Gazeta desafogadamente bradava «bravo! bravo!» Havia ainda outras abomináveis sandices. Depois seguia-se a lista das pessoas que a Gazeta se recordava de ter visto, entre as quais «destacava com o seu monóculo o fino perfil de João da Ega, sempre brilhante de verve.» Ega sorriu, cofiando o bigode. Justamente o bife chegava, fumegante, chiando na frigideira de barro. Ega pousou a Gazeta ao lado, dizendo consigo: «Não é nada mal feito, este jornal!»

O bife era excelente: - e depois de uma perdiz fria, de um pouco de doce de ananás, de um café forte, Ega sentiu adelgaçar-se enfim aquele negrume que desde a véspera lhe pesava na alma. No fim, pensava ele, acendendo o charuto e lançando os olhos ao relógio, naquele desastre praticamente encarado só havia para Carlos a perda de uma bela amante. E essa perda, que agora o angustiava, não traria depois compensações? O futuro de Carlos até aí tinha uma sombra - aquela promessa de casamento que irreparavelmente o colava pela honra a uma mulher muito interessante, mas com um passado cheio de brasileiros e de irlandeses... A sua beleza poetizava tudo: mas quanto tempo mais duraria esse encanto, o seu brilho de deusa pisando a terra?... Não seria por fim aquela descoberta do Guimarães uma libertação providencial?





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