Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 17: Capítulo 17

Página 581
Não se pode agora falar com este barulho das rodas.

De novo cada um recaiu na sua mudez, ao seu canto.

Em casa, subindo a escadinha forrada de veludo, Carlos declarou-se exausto e com uma intolerável dor de cabeça:

- Amanhã falamos, Ega... Boa noite, sim?

- Até amanhã.

Alta noite Ega acordou com uma grande sede. Saltara da cama, esvaziara a garrafa no toucador, quando julgou sentir por baixo, no quarto de Carlos, uma porta bater. Escutou. Depois, arrepiado, remergulhou nos lençóis. Mas despertara inteiramente, com uma ideia estranha, insensata, que o assaltara sem motivo, o agitava, lhe fazia palpitar o coração no grande silêncio da noite. Ouviu assim dar três horas. A porta de novo batera, depois uma janela: era decerto vento que se erguera. Não podia porém readormecer, às voltas, num terrível mal-estar, com aquela ideia cravada na imaginação que o torturava. Então, desesperado, pulou da cama, enfiou um paletó, e em pontas de chinelas, com a mão diante da luz, desceu surdamente ao quarto de Carlos. Na antessala parou, tremendo, com o ouvido contra o reposteiro, na esperança de perceber algum calmo rumor de respiração. O silêncio era pesado e pleno. Ousou entrar... A cama estava feita e vazia, Carlos saíra.

Ele ficou a olhar estupidamente para aquela colcha lisa, com a dobra do lençol de renda cuidadosamente entreaberta pelo Baptista. E agora não duvidava. Carlos fora findar a noite à rua de S. Francisco!... Estava lá, dormia lá! E só uma ideia surgia através do seu horror - fugir, safar-se para Celorico, não ser testemunha daquela incomparável infâmia!...

E o dia seguinte, terça-feira, foi desolador para o pobre Ega. Vexado, num terror de encontrar Carlos ou Afonso, levantou-se cedo, esgueirou-se pelas escadas com cautelas de ladrão, foi almoçar ao Tavares. De tarde, na rua do Ouro, viu passar Carlos, que levava no break o Cruges e o Taveira - arrebanhados certamente para ele se não encontrar só à mesa com o avô. Ega jantou melancolicamente no Universal. Só entrou no Ramalhete às nove horas, vestir-se para a soirée da Gouvarinho, que pela manhã no Loreto parara a carruagem para lhe lembrar «que era a festa do Charlie».

<< Página Anterior

pág. 581 (Capítulo 17)

Página Seguinte >>

Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 581

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605