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Capítulo 17: Capítulo 17

Página 580
Todos sumidos! Pela primeira vez no Ramalhete Ega almoçou solitariamente na larga mesa, lendo a Gazeta Ilustrada.

De tarde, às seis, no quarto do marquês (que tinha o pescoço enrolado numa boa de senhora de pele de marta), encontrou Carlos, o Darque, o Craft, em torno de um rapaz gordo que tocava guitarra - enquanto ao lado o procurador do marquês, um belo homem de barba preta, se batia com o Teles numa partida de damas.

- Viste o avô? perguntou Carlos, quando o Ega lhe estendeu a mão.

- Não, almocei só.

O jantar, daí a pouco, foi muito divertido, largamente regado com os soberbos vinhos da casa. E ninguém decerto bebeu mais, ninguém riu mais do que Carlos, ressurgido quase de repente de uma desanimação sombria a uma alegria nervosa - que incomodava o Ega, sentindo nela um timbre falso e como um som de cristal rachado. O próprio Ega por fim à sobremesa se excitou consideravelmente com um esplêndido Porto de 1815. Depois houve um bacarat em que Carlos, outra vez sombrio, deitando a cada instante os olhos ao relógio, teve uma sorte triunfante, uma «sorte de cabrão», como a classificou o Darque, indignado, ao trocar a sua ultima nota de vinte mil reis... à meia-noite porém, inexoravelmente, o procurador do marquês lembrou as ordens do médico que marcara esse limite «ao natalício». Foi então um enfiar de paletós, em debandada, por entre os queixumes do Darque e do Craft, que saíam escorridos, sem sequer um troco para o «americano». Fez-se-lhes uma subscrição de caridade, que eles recolheram nos chapéus, rosnando bênçãos aos benfeitores.

Na tipoia que os levava ao Ramalhete, Carlos e Ega permaneceram muito tempo em silêncio, cada um enterrado ao seu canto, fumando. Foi já ao meio do Aterro que Ega pareceu despertar:

- E então por fim?... Sempre vais para Santa Olávia, ou que fazes?

Carlos mexeu-se no escuro da tipoia. Depois, lentamente, como cheio de cansaço:

- Talvez vá amanhã... Ainda não disse nada, ainda não fiz nada... Decidi dar-me quarenta e oito horas para acalmar, para reflectir...

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 580

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605