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Capítulo 17: Capítulo 17

Página 583

Teve um grande gesto de revolta e de dor. De novo os seus passos, mais pesados, mais lentos, se sumiram no corredor.

Ega ficou junto da porta, um momento, estarrecido. Depois foi-se despindo devagar, decidido a dizer a Carlos muito simplesmente, ao outro dia, antes de partir para Celorico, que a sua infâmia estava matando o avô, e o forçava a ele, seu melhor amigo, a fugir para a não testemunhar por mais tempo.

Mal acordou, puxou a mala para o meio do quarto, atirou para cima da cama, às braçadas, a roupa que ia emalar. E durante meia hora, em mangas de camisa, lidou nesta tarefa, misturando aos seus pensamentos de cólera lembranças da soirée da véspera, certos olhares da Alvim, certas esperanças que lhe tornavam saudosa a partida. Um alegre sol dourava a varanda. Terminou por abrir a vidraça, respirar, olhar o belo azul de inverno. Lisboa ganhava tanto com aquele tempo! E já Celorico, a quinta, o padre Serafim, lhe estendiam de longe a sua sombra na alma. Ao baixar os olhos viu o dog-cart de Carlos atrelado com a Tunante, que escarvava a calçada animada pelo ar vivo. Era Carlos decerto que ia sair cedo - para não se encontrar com ele e com o avô!

Num receio de o não apanhar nesse dia, desceu correndo. Carlos aferrolhára-se na alcova de banho. Ega chamou, o outro não tugiu. Por fim Ega bateu, gritou através da porta, sem esconder a sua irritação:

- Tem a bondade de escutar!... Então partes para Santa Olávia, ou quê?

Depois de um instante, Carlos lançou de lá, entre um rumor d'agua que caía:

- Não sei... Talvez... Logo te digo...

O outro não se conteve mais:

- É que se não pode ficar assim eternamente... Recebi uma carta de minha mãe... E se não partes para Santa Olávia, eu vou para Celorico... É absurdo! Já estamos nisto há três dias!

E quase se arrependia já da sua violência, quando a voz de Carlos se arrastou de dentro, humilde e cansada, numa suplica:

- Por quem és, Ega! Tem um bocado de paciência comigo. Eu logo te digo...

Numa daquelas súbitas emoções de nervoso, que o sacudiam os olhos do Ega humedeceram.

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 583

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605