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Capítulo 17: Capítulo 17

Página 584

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- Bem, bem! Eu falei alto por ser através da porta... Não há pressa!

E fugiu para o quarto, cheio só de compaixão e ternura, com uma grossa lágrima nas pestanas. Sentia agora bem a tortura em que o pobre Carlos se debatera, sob o despotismo de uma paixão até aí legitima, e que numa hora amarga se tornava de repente monstruosa, sem nada perder de seu encanto e da sua intensidade... Humano e frágil, ele não pudera estacar naquele violento impulso de amor e de desejo que o levava como num vendaval! Cedera, cedera, continuara a rolar àqueles braços, que inocentemente o continuavam a chamar. E aí andava agora, aterrado, escorraçado, fugindo ocultamente de casa, passando o dia longe dos seus, numa vadiagem trágica, como um excomungado que receia encontrar olhos puros onde sinta o horror do seu pecado... E ao lado, o pobre Afonso, sabendo tudo, morrendo daquela dor! Podia ele, hospede querido dos tempos alegres, partir, agora que uma onda de desgraça quebrara sobre essa casa, onde o acolhiam afeições mais largas que na sua própria? Seria ignóbil! Tornou logo a desfazer a mala; e, furioso no seu egoísmo com rodas aquelas amarguras que o abalavam, arranjava outra vez a roupa dentro da cómoda, com a mesma cólera com que a desmanchara, rosnando:

- Diabo levem as mulheres, e a vida, e tudo!...

Quando desceu, já vestido, Carlos desaparecera! Mas Baptista, tristonho, carrancudo, certo agora de que havia um grande desgosto, deteve-o para lhe murmurar:

- Tinha V.Ex.ª razão... Partimos amanhã para Santa Olávia e levamos roupa para muito tempo... Este inverno começa mal!

Nessa madrugada, às quatro horas, em plena escuridão, Carlos cerrara de manso o portão da rua de S. Francisco. E, mais pungente, apoderava-se dele, na frialdade da rua, o medo que já o roçara, ao vestir-se na penumbra do quarto, ao lado de Maria adormecida - o medo de voltar ao Ramalhete! Era esse medo que já na véspera o trouxera todo o dia por fora no dog-cart, findando por jantar lugubremente com o Cruges, escondido num gabinete do Augusto.

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 584

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605