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Capítulo 17: Capítulo 17

Página 590

Ega acendera dois castiçais de prata: a governante, de joelhos à beira do leito, esfiava o rosário: e Mr. Antoine, com o seu barrete branco de cozinheiro na mão, ficara à porta, junto de um cesto que trouxera, cheio de camélias e palmas de estufa. Carlos, no entanto, movendo-se pelo quarto, com longos soluços que o sacudiam, voltava a cada instante, numa derradeira e absurda esperança, palpar as mãos ou o coração do velho. Com o jaquetão de veludilho, os seus grossos sapatos brancos, Afonso parecia mais forte e maior, na sua rigidez, sobre o leito estreito: entre o cabelo de neve cortado à escovinha e a longa barba desleixada, a pele ganhara um tom de marfim velho, onde as rugas tomaram a dureza de entalhaduras a cinzel: as pálpebras engelhadas, de pestanas brancas, pousavam com a consolada serenidade de quem enfim descansa; e ao deitarem-no uma das mãos ficara-lhe aberta e posta sobre o coração, na simples e natural atitude de quem tanto pelo coração vivera!

Carlos perdia-se nesta contemplação dolorosa. E o seu desespero era que o avô assim tivesse partido para sempre, sem que entre eles houvesse um adeus, uma doce palavra trocada. Nada! Apenas aquele olhar angustiado, quando passara com a vela acesa na mão. Já então ele ia andando para a morte. O avô sabia tudo, disso morrera! E esta certeza sem cessar lhe batia na alma, com uma longa pancada repetida e lúgubre. O avô sabia tudo, disso morrera!

Ega veio com um gesto indicar-lhe o estado em que estavam - ele de robe-de-chambre, Carlos com o paletó sobre a camisa de dormir:

- É necessário descer, é necessário vestir-nos.

Carlos balbuciou:

- Sim, vamo-nos vestir...

Mas não se arredava. Ega levou-o brandamente pelo braço. Ele caminhava como um sonâmbulo, passando o lenço devagar pela testa e pela barba. E de repente no corredor, apertando desesperadamente as mãos, outra vez coberto de lágrimas, num agoniado desabafo de toda a sua culpa:

Ega, meu querido Ega! O avô viu-me esta manhã quando entrei! E passou, não me disse nada... Sabia tudo, foi isso que o matou!...

Ega arrastou-o, consolou-o, repelindo tal ideia. Que tolice!

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 590

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605