Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 17: Capítulo 17

Página 591
O avô tinha quase oitenta anos, e uma doença de coração... Desde a volta de Santa Olávia, quantas vezes eles tinham falado nisso, aterrados! Era absurdo ir agora fazer-se mais desgraçado com semelhante imaginação!

Carlos murmurou, devagar, como para si mesmo, com os olhos postos no chão:

- Não! É estranho, não me faço mais desgraçado! Aceito isto como um castigo... Quero que seja um castigo... E sinto-me só muito pequeno, muito humilde diante de quem assim me castiga. Esta manhã pensava em matar-me. E agora não! É o meu castigo viver, esmagado para sempre... O que me custa é que ele não me tivesse dito adeus!!

De novo as lágrimas lhe correram, mas lentas, mansamente, sem desespero. Ega levou-o para o quarto, como uma criança. E assim o deixou a um canto do sofá, com o lenço sobre a face, num choro continuo e quieto, que lhe ia lavando, aliviando o coração de todas as angústias confusas e sem nome que nesses dias derradeiros o traziam sufocado.

Ao meio dia, em cima, Ega acabava de vestir-se quando Vilaça lhe rompeu pelo quarto de braços abertos.

- Então como foi isto, como foi isto?

Baptista mandara-o chamar pelo trintenário, mas o rapazola pouco lhe soubera contar. Agora em baixo o pobre Carlos abraçara-o, coitadinho, lavado em lágrimas, sem poder dizer nada, pedindo-lhe só para se entender em tudo com o Ega... E ali estava.

- Mas como foi, como foi, assim de repente?...

Ega contou, brevemente, como tinham encontrado Afonso de manhã no jardim, tombado para cima da mesa de pedra. Viera o Dr. Azevedo, mas tudo acabara!

Vilaça levou as mãos à cabeça:

- Uma coisa assim! Creia o amigo! Foi essa mulher, essa mulher que aí apareceu, que o matou! Nunca foi o mesmo depois daquele abalo! Não foi mais nada! Foi isso!

Ega murmurava, deitando maquinalmente água de Colónia no lenço:

- Sim, talvez, esse abalo, e oitenta anos, e poucas cautelas, e uma doença de coração.

Falaram então do enterro, que devia ser simples como convinha àquele homem simples.

<< Página Anterior

pág. 591 (Capítulo 17)

Página Seguinte >>

Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 591

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605