Ela, despeitada, vendo o seu coração mal compreendido, chamava-lhe arrieiro; ele ameaçava
boxá-la, à inglesa; - e separavam-se sempre arrenegados.
Mas quando ela se acomodou ao lado da Viscondessa, gravezinha e com as mãos no regaço - Carlos veio logo estirar-se ao pé dela, meio deitado para as costas do canapé, bamboleando as pernas.
- Vamos, filho, tem maneiras, rosnou-lhe muito seca D. Ana.
- Estou cansado, governei quatro cavalos, replicou ele, insolente e sem a olhar.
De repente porém, de um salto, precipitou-se sobre o Eusébiozinho. Queria-o levar à África, a combater os selvagens: e puxava-o já pelo seu belo plaid de cavaleiro d'Escócia, quando a mamã acudiu aterrada.
- Não, com o Eusébiozinho não, filho! Não tem saúde para essas cavaladas... Carlinhos, olhe que eu chamo o avô!
Mas o Eusébiozinho, a um repelão mais forte, rolara no chão, soltando gritos medonhos. Foi um alvoroço, um levantamento. A mãe, tremula, agachada junto dele, punha-o de pé sobre as perninhas moles, limpando-lhe as grossas lágrimas, já com o lenço, já com beijos, quase a chorar também. O delegado, consternado, apanhara o boné escocês, e cofiava melancolicamente a bela pena de galo. E a Viscondessa apertava às mãos ambas o enorme seio, como se as palpitações a sufocassem.
O Eusébiozinho foi então preciosamente colocado ao lado da titi; e a severa senhora, com um fulgor de cólera na face magra, apertando o leque fechado como uma arma, preparava-se a repelir o Carlinhos que, de mãos atrás das costas e aos pulos em roda do canapé, ria, arreganhando para o Eusébiozinho um lábio feroz. Mas nesse momento davam nove horas, e a desempenada figura do Brown apareceu à porta.
Apenas o avistou, Carlos correu a refugiar-se por detrás da Viscondessa, gritando:
- Ainda é muito cedo, Brown, hoje é festa, não me vou deitar!
Então Afonso da Maia, que se não movera aos uivos lancinantes do Silveirinha, disse de dentro, da mesa do voltarete, com severidade:
- Carlos, tenha a bondade de marchar já para a cama.