Os Maias - Cap. 3: Capítulo 3 Pág. 63 / 630

- Oh vovô, é festa, que está cá o Vilaça!

Afonso da Maia pousou as cartas, atravessou a sala sem uma palavra, agarrou o rapaz pelo braço, e arrastou-o pelo corredor – em quanto ele, de calcanhares fincados no soalho, resistia, protestando com desespero:

- É festa, vovô... É uma maldade!... O Vilaça pode-se escandalizar... Oh vovô, eu não tenho sono!

Uma porta fechando-se abafou-lhe o clamor. As senhoras censuraram logo aquela rigidez: aí estava uma coisa incompreensível; o avô deixava-lhe fazer todos os horrores, e recusava-lhe então o bocadinho da soirée...

- Oh Sr. Afonso da Maia, por que não deixou estar a criança?

- É necessário método, é necessário método, balbuciou ele, entrando, todo pálido do seu rigor.

E à mesa do voltarete, apanhando as cartas com as mãos trémulas, repetia ainda:

- É necessário método. Crianças à noite dormem.

D. Ana Silveira voltando-se para o Vilaça - que cedera o seu lugar ao Dr. delegado e vinha palestrar com as senhoras – teve aquele sorriso mudo que lhe franzia os lábios, sempre que Afonso da Maia falava em «métodos.»

Depois, reclinando-se para as costas da cadeira e abrindo o leque, declarou, a transbordar de ironia, que, talvez por ter a inteligência curta, nunca compreendera a vantagem dos «métodos»... Era à inglesa, segundo diziam: talvez provassem bem em Inglaterra; mas ou ela estava enganada, ou Sta. Olávia era no reino de Portugal...

E como Vilaça inclinava timidamente a cabeça, com a sua pitada nos dedos, a esperta senhora, baixo para que Afonso dentro não ouvisse, desabafou. O Sr. Vilaça naturalmente não sabia, mas aquela educação do Carlinhos nunca fora aprovada pelos amigos da casa. Já a presença do Brown, um herético, um protestante, como perceptor na família dos Maias, causara desgosto em Resende. Sobretudo quando o Sr. Afonso tinha aquele santo do abade Custodio, tão estimado, homem de tanto saber...





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