- Não conheces?
Carlos procurava, com uma recordação.
- O teu antigo doente! O Charlie!
O outro bateu as mãos. O Charlie! O seu Charlie! Como aquilo o fazia velho!... E era bonitinho!
- Sim, muito bonitinho. Tem aí uma amizade com um velho, anda sempre com um velho... Mas ele vinha decerto com a mãe, estou convencido que ela ficou por aí a passear a pé. Vamos nós ver?
Subiram ao comprido da Avenida, procurando. E quem avistaram logo foi o Eusebiozinho. Parecia mais fúnebre, mais tisico, dando o braço a uma senhora muito forte, muito corada, que estalava num vestido de seda cor de pinhão. Iam devagar, tomando o sol. E o Eusébio nem os viu, descaído e molengo, seguindo com as grossas lunetas pretas o marchar lento da sua sombra.
- Aquela aventesma é a mulher, contou Ega. Depois de varias paixões em lupanares, o nosso Eusébio teve este namoro. O pai da criatura, que é dono de um prego, apanhou-o uma noite na escada com ela a surripiar-lhe uns prazeres... Foi o diabo, obrigaram-no a casar. E desapareceu, não o tornei a ver... Diz que a mulher que o derreia à pancada.
- Deus a conserve!
- Ámen!
E então Carlos, que recordava a coça no Eusébio, o caso da Corneta, quis saber do Palma Cavalão. Ainda desonrava o Universo com a sua presença, esse benemérito? Ainda o desonrava, disse o Ega. Somente deixara a literatura, e tornara-se factótum do Carneiro, o que fora ministro; levava-lhe a espanhola ao teatro pelo braço; e era um bom empenho em política.
- Ainda há de ser deputado, acrescentou Ega! E, da forma que as coisas vão, ainda há de ser ministro... E isto está-se fazendo tarde, Carlinhos. Vamos nós tomar esta tipóia e abalar para o Ramalhete?
Eram quatro horas, o sol curto de inverno tinha já um tom pálido.