Os Maias - Cap. 18: Capítulo 18 Pág. 620 / 630

Mas foi um desapontamento. Vinha lá somente um rapaz muito louro, de uma brancura de camélia, com uma penugem no beiço, languidamente recostado. Fez um aceno ao Ega, com um lindo sorriso de virgem. A vitoria passou.

- Não conheces?

Carlos procurava, com uma recordação.

- O teu antigo doente! O Charlie!

O outro bateu as mãos. O Charlie! O seu Charlie! Como aquilo o fazia velho!... E era bonitinho!

- Sim, muito bonitinho. Tem aí uma amizade com um velho, anda sempre com um velho... Mas ele vinha decerto com a mãe, estou convencido que ela ficou por aí a passear a pé. Vamos nós ver?

Subiram ao comprido da Avenida, procurando. E quem avistaram logo foi o Eusebiozinho. Parecia mais fúnebre, mais tisico, dando o braço a uma senhora muito forte, muito corada, que estalava num vestido de seda cor de pinhão. Iam devagar, tomando o sol. E o Eusébio nem os viu, descaído e molengo, seguindo com as grossas lunetas pretas o marchar lento da sua sombra.

- Aquela aventesma é a mulher, contou Ega. Depois de varias paixões em lupanares, o nosso Eusébio teve este namoro. O pai da criatura, que é dono de um prego, apanhou-o uma noite na escada com ela a surripiar-lhe uns prazeres... Foi o diabo, obrigaram-no a casar. E desapareceu, não o tornei a ver... Diz que a mulher que o derreia à pancada.

- Deus a conserve!

- Ámen!

E então Carlos, que recordava a coça no Eusébio, o caso da Corneta, quis saber do Palma Cavalão. Ainda desonrava o Universo com a sua presença, esse benemérito? Ainda o desonrava, disse o Ega. Somente deixara a literatura, e tornara-se factótum do Carneiro, o que fora ministro; levava-lhe a espanhola ao teatro pelo braço; e era um bom empenho em política.

- Ainda há de ser deputado, acrescentou Ega! E, da forma que as coisas vão, ainda há de ser ministro... E isto está-se fazendo tarde, Carlinhos. Vamos nós tomar esta tipóia e abalar para o Ramalhete?

Eram quatro horas, o sol curto de inverno tinha já um tom pálido.





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