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Capítulo 18: Capítulo 18

Página 625
Depois ao fundo, encaixilhada como uma tela marinha nas cantarias dos dois altos prédios, a curta paisagem do Ramalhete, um pedaço de Tejo e monte, tomava naquele fim de tarde um tom mais pensativo e triste: na tira de rio um paquete fechado, preparado para a vaga, ia descendo, desaparecendo logo, como já devorado pelo mar incerto; no alto da colina o moinho parara, transido na larga friagem do ar; e nas janelas das casas à beira de água um raio de sol morria, lentamente sumido, esvaído na primeira cinza do crepúsculo, como um resto de esperança numa face que se anuvia.

Então, naquela mudez de Soledade e de abandono, Ega, com os olhos para o longe, murmurou devagar:

- Mas tu desse casamento não tinhas a menor indicação, a menor suspeita?

- Nenhuma... Soube-o de repente pela carta dela em Sevilha.

E era esta a formidável nova anunciada por Carlos, a nova que ele logo contara de madrugada ao Ega, depois dos primeiros abraços, em Santa Apolónia. Maria Eduarda ia casar.

Assim o anunciara ela a Carlos numa carta muito simples, que ele recebera na quinta dos Vila-Medina. Ia casar. E não parecia ser uma resolução tomada arrebatadamente sob um impulso do coração; mas antes um propósito lento, longamente amadurecido. Ela aludia nessa carta a ter «pensado muito, reflectido muito...» De resto o noivo devia ir perto dos cinquenta anos. E Carlos portanto via ali a união de dois seres desiludidos da vida, maltratados por ela, cansados ou assustados do seu isolamento, que, sentindo um no outro qualidades sérias de coração e de espírito, punham em comum o seu resto de calor, de alegria e de coragem para afrontar juntos a velhice...

- Que idade tem ela?

Carlos pensava que ela devia ter quarenta e um ou quarenta e dois anos. Ela dizia na carta «sou apenas mais nova que o meu noivo seis anos e três meses». Ele chamava-se Mr. de Trelain. E era evidentemente um homem de espírito largo, desembaraçado de prejuízos, de uma benevolência quase misericordiosa, porque quisera Maria, conhecendo bem os seus erros.

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 625

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605