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Capítulo 3: Capítulo 3

Página 68

E como Afonso se aproximava da mesa, sem uma palavra, Vilaça, dando-lhe um papel dobrado, acrescentou:

- Todas estas coisas são muito graves, Sr. Afonso da Maia, e eu não quis fiar-me só na minha memória. Por isso pedi ao Alencar, que é um excelente rapaz, que me escrevesse numa carta tudo o que me contou. Assim temos um documento. Eu não sei mais do que aí está escrito. Pode V. Ex.ª ler...

Afonso desdobrou as duas folhas de papel. Era uma história simples, que o Alencar, o poeta das Vozes de Aurora, o estilista de Elvira, ornara de flores e de galões dourados como uma capela em dia de festa.

Uma noite, ao sair da Maison d'Or, ele vira a Monforte saltar de um coupé com dois homens de gravata branca; tinham-se logo reconhecido: e um momento ficaram hesitando, um defronte do outro, debaixo do candeeiro do gaz, no trottoir. Foi ela que, muito decidida, rindo, estendeu a mão ao Alencar, pediu-lhe que a visitasse, deu-lhe o endereço, o nome por que devia perguntar: Madame de l'Estorade. E no seu boudoir, na manhã seguinte a Monforte falou largamente de si: vivera três anos em Viena d'Áustria com Tancredo, e com o papá que se lhes fora reunir - e que lá continuava decerto, como em Arroios, refugiando-se pelos cantos das salas, pagando as toiletes da filha, e dando palmadinhas ternas no ombro do amante como outrora no ombro do marido. Depois tinham estado em Mónaco; e aí, dizia o Alencar, «num drama sombrio de paixão que ela me fez entrever» o napolitano fora morto em duelo. O papá morrera também nesse ano, deixando apenas da sua fortuna uns magros contos de réis, e a mobília da casa em Viena: o velho arruinara-se com o luxo da filha, com as viagens, com as perdas de Tancredo ao bacará. Passara então um tempo em Londres: e daí viera habitar Paris, com Mr. de l'Estorade, um jogador, um espadachim, que acabou de a arrasar, e que a abandonou legando-lhe esse nome de l'Estorade, que lhe era a ele d'ora em diante inútil porque passava a adoptar outro mais sonoro de Vicomte de Mandervile.

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 68

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605