Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 4: Capítulo 4

Página 94

Ega teve um grande gesto. Era indispensável conhecer o Craft! O Craft era simplesmente a melhor coisa que havia em Portugal...

- É um inglês, uma espécie de doido?...

Ega encolheu os ombros. Um doido!... Sim, era essa a opinião da rua dos Fanqueiros; o indígena, vendo uma originalidade tão forte como a de Craft, não podia explicá-la senão pela doidice. O Craft era um rapaz extraordinário!... Agora tinha ele chegado da Suécia, de passar três meses com os estudantes de Upsala. Estava também na Foz... Uma individualidade de primeira ordem!

- É um negociante do Porto, não é?

- Qual negociante do Porto! exclamou o Ega erguendo-se, franzindo a face, enojado de tanta ignorância. O Craft é filho de um clergiman da igreja inglesa do Porto. Foi um tio, um negociante de Calcutá ou de Austrália, um Nababo, que lhe deixou a fortuna. Uma grande fortuna. Mas não negoceia, nem sabe o que isso é. Dá largas ao seu temperamento byroniano, é o que faz. Tem viajado por todo o universo, colecciona obras de arte, bateu-se como voluntário na Abissínia e em Marrocos, enfim vive, vive na grande, na forte, na heróica acepção da palavra. É necessário conhecer o Craft. Vais-te babar por ele... Tens razão, caramba, está calor.

Desembaraçou-se da opulenta peliça, e apareceu em peitilho de camisa.

- O que! tu não trazias nada por baixo? exclamou Carlos. Nem colete?

- Não; então não a podia aguentar... Isto é para o efeito moral, para impressionar o indígena... Mas, não há que negá-lo, é pesada!

E imediatamente voltou à sua ideia: apenas Craft chegasse do Porto relacionavam-se, organizava-se um Cenáculo, um Decameron de arte e diletantismo, rapazes e mulheres - três ou quatro mulheres para cortarem, com a graça dos decotes, a severidade das filosofias...

Carlos ria-se desta ideia do Ega. três mulheres de gosto e de luxo, em Lisboa, para adornar um cenáculo! Lamentável ilusão de um homem de Celorico! O marquês de Sousela tinha tentado, e para uma vez só, uma coisa bem mais simples - um jantar no campo com actrizes.

<< Página Anterior

pág. 94 (Capítulo 4)

Página Seguinte >>

Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 94

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605