O Processo - Cap. 7: Capítulo 7 Pág. 109 / 183

Estava ainda a abanar a cabeça a pensar neste assunto quando o contínuo se aproximou dele e lhe indicou três senhores que estavam sentados num banco na sala de espera. Já ali estavam há muito tempo, aguardando que K. os mandasse chamar. Logo que o continuo abordou K., levantaram-se, tentando avidamente cada um deles aproveitar a ocasião para atrair a atenção de K. Já que os funcionários do Banco mostravam tão pouca consideração por eles, fazendo-os perder o seu tempo na sala de espera, sentiam-se, por sua vez, também com o direito de usar da mesma falta de consideração. Hera K.», começou um deles. Contudo, K. tinha mandado buscar o seu sobretudo e, enquanto o vestia, disse o seguinte aos três senhores: «Desculpem-me, meus senhores, lamento informá-los de que não tenho neste momento tempo de os receber. Peço-lhes desculpa, mas preciso de me ausentar para tratar de um assunto de serviço urgente e tenho de partir imediatamente. Os senhores tiveram oportunidade de ver com os vossos próprios olhos quanto tempo me tomou a entrevista com o último visitante. Poderiam fazer-me o favor de voltar amanhã ou noutra altura qualquer? Ou então talvez pudéssemos tratar do assunto pelo telefone? Ou poderiam ainda informar-me agora, em breves palavras, do assunto que desejam tratar, dando-vos eu amanhã uma resposta detalhada por escrito. Contudo, seria decerto preferível marcar uma entrevista para outra altura qualquer.» Tais sugestões deixaram os três homens, cujo tempo tinha sido assim desperdiçado sem nenhuma finalidade, tão surpreendidos, que apenas se entreolharam espantados e em silêncio. «Está então assente?», inquiriu K, voltando-se pata o continuo que lhe trazia o chapéu. Através da porta aberta do seu gabinete, podia ver que a neve caia agora mais espessa. Por isso, levantou a gola do sobretudo e abotoou-a até ao pescoço.





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