Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 7: Capítulo 7

Página 114

«Aqueles fedelhos são, na realidade, um estorvo», continuou ele, enquanto desistia de abotoar a camisa de dormir—já que o botão de cima tinha acabado de cair—, ia buscar uma cadeira e obrigava K. a sentar-se. «Pintei uma vez uma delas... nenhuma daquelas que acabou de ver... e desde então passam o tempo a perseguir-me. Quando aqui estou sozinho, elas só entram se eu as deixar vir, mas, quando me vou embora, há sempre pelo menos uma que aqui fica. Mandaram fazer uma chave da minha porta e vão-na emprestando umas às outras. O senhor nem pode imaginar o transtorno que isto me causa. Por exemplo, se trago aqui uma senhora cujo retrato quero pintar, abro a porta com a minha própria chave e descubro a corcunda ali em cima da mesa, pintando os lábios com os meus pincéis, enquanto as irmãzinhas, de quem ela tem de tomar conta, correm por todo o lado, deixando tudo num reboliço. Ou ainda, e isto aconteceu na realidade ontem à noite, regresso a casa muito tarde... a propósito, esta é a razão por que me encontro ainda neste estado de desalinho, bem como o meu quarto, pelo que peço desculpa... regresso, pois, a casa muito tarde e, quando começo a subir para a cama, sinto que há qualquer coisa que me agarra por uma perna; espreito para debaixo da cama e num puxão arrasto uma destas pestes. Por que razão me hão-de fazer estas partidas, não consigo descobrir, pois, como deve ter notado, não as encorajo a fazê-lo. É claro que isto tudo perturba o meu trabalho. Se não vivesse aqui sem pagar nada, há muito que me teria mudado.» Exactamente nesse momento, ouviu-se uma vozinha aflautada por detrás da porta dizer, impaciente e carinhosamente: «Titorelli, já podemos entrar?» «Não», respondeu o pintor. «Nem mesmo eu?», perguntou de novo a mesma voz. «Nem mesmo tu», retorquiu o pintor, dirigindo-se à porta e fechando-a.

Entretanto, K. tinha estado a observar o quarto; nunca ocorreria a ninguém chamar àquele miserável buraco um atelier. Mal se podiam dar dois passos em qualquer das direcções. Todo o quarto — o chão, paredes e tecto — era uma caixa de pranchas de madeira com rachas entre elas. Em frente de K., encostada à parede, havia uma cama com uma diversidade de roupas a cobri-la. No meio do quarto estava um cavalete com uma tela coberta por uma camisa cujas mangas suspensas batiam no chão. Atrás de K. havia uma janela através da qual, com o nevoeiro, não se conseguia ver senão o tecto da casa em frente, coberto de neve.

<< Página Anterior

pág. 114 (Capítulo 7)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Processo
Páginas: 183
Página atual: 114

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 25
Capítulo 3 39
Capítulo 4 59
Capítulo 5 65
Capítulo 6 71
Capítulo 7 88
Capítulo 8 132
Capítulo 9 158
Capítulo 10 179