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Capítulo 7: Capítulo 7

Página 122

Contudo, não se retraiu, antes continuou: «A princípio, o senhor afirmou que o tribunal não se deixa influenciar por provas, mais tarde afirmou que estas ficavam confinadas as sessões públicas dos tribunais e agora diz que, uma vez inocente, um acusado não necessita de auxilio perante o tribunal. Isto, só por si, indica uma contradição. No entanto, também disse, a princípio, que os juízes se deixam mover por influências pessoais e agora nega esse facto, afirmando que uma absolvição definitiva, tal como o senhor lhe chama, não pode ser obtida através de influências pessoais. Nesta asserção, está assente a segunda contradição.» «Estas contradições são fáceis de explicar», disse o pintor. «Temos de distinguir entre duas coisas: o que a lei dita e o que eu aprendi através da minha experiência pessoal; o senhor não deve fazer confusão entre elas. No Código da Justiça, que, devo confessar, nunca li, está estabelecido, sem dúvida, que, por um lado, o inocente deve ser absolvido, mas não está estabelecido, por outro lado, que os juízes podem ser influenciados. Neste momento, sei, por experiência, que tenho ideias diametralmente apostas. Não sei de um único caso de absolvição definitiva, mas têm-se-me deparado muitos casos de influência pessoal. É talvez natural que em todos estes casos que são do meu conhecimento não tivesse havido nenhum em que o acusado estivesse efectivamente inocente. Não acha isso, no entanto, pouco provável? Entre tantos casos, não haver um único de inocência? Mesmo quando era criança, costumava escutar atentamente o que meu pai dizia quando descrevia processos acerca dos quais ouvira falar; também os juízes que iam ao seu atelier costumavam contar-lhes histórias acerca do tribunal, o que é, no nosso circulo, o único tópico de discussão. Logo que tive oportunidade de ir ao tribunal, comecei a tirar desse facto as minhas vantagens; ouvi fã lar de um número infindo de casos nas fases mais cruciais e acompanhei-os tanto quanto era possível, contudo, devo confessá-lo, jamais encontrei um caso de absolvição definitiva.» «Então, nem um simples caso de absolvição», disse K., como se estivesse a falar consigo próprio e com as suas esperanças. «Mas isso só serve para confirmar a opinião que já formulei acerca deste tribunal. É uma instituição obtusa de qualquer ponto de vista. Um simples carrasco conseguiria fazer tudo o que é necessário.» «O senhor não deve generalizar», disse o pintor com um certo descontentamento to. «Apenas mencionei os conhecimentos adquiridos através da minha própria experiência.» «Chega perfeitamente», respondeu K. «Ou, por acto só, já ouviu falar de absolvição nos tempos remotos?»

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Capa do livro O Processo
Páginas: 183
Página atual: 122

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 25
Capítulo 3 39
Capítulo 4 59
Capítulo 5 65
Capítulo 6 71
Capítulo 7 88
Capítulo 8 132
Capítulo 9 158
Capítulo 10 179