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Capítulo 7: Capítulo 7

Página 125

Lia-se nos olhos do pintor uma leve insinuação de censura por K. depor nos seus ombros o peso de tal responsabilidade. «Essa atitude demonstra uma grande amabilidade da sua parte», disse K. «E, acreditando o juiz em si, não me daria ele a absolvição definitiva?» «É exactamente como já lhe expliquei», respondeu o pintor «Além disso, não há a mínima certeza de que todos os juízes acreditarás em mim; alguns deles, por exemplo, pedir-me-ão para o verem pessoalmente. Então terei de levar o senhor comigo para lhes fazermos uma visita. Contudo, quando isso acontecer, a batalha já estará meio ganha, especialmente porque lhe direi com antecedência, é claro, qual exactamente o procedimento a seguir relativamente a cada juiz. A dificuldade maior surge com aquela espécie de juízes que me repudiam de início... e tenho a certeza de que isso irá acontecer também. Tentarei fazer-lhes vários pedidos, é claro, mas teremos de passar sem eles, pois poderemos fazê-lo, visto que o desacordo de um ou outro juiz não afectará o resultado final. Pois bem, se eu conseguir um número razoável de juízes dispostos a pôr a sua assinatura no requerimento, irei entregar pessoalmente este documento ao juiz que está com efeito encarregado de conduzir o seu processo. Provavelmente, recolherei também a assinatura dele, de modo que muito em breve, mais cedo do que é costume, o seu caso se resolva. De uma maneira geral, depois disto não costumam surgir dificuldades dignas de menção e o acusado sente-se nesta fase do processo imensamente confiante. É na realidade surpreendente, mas verdadeiro, que nesta fase a confiança das pessoas seja maior do que após a sua absolvição. Nessa altura, já não há necessidade de fazer muito mais. O juiz está coberto pela garantia das assinaturas apostas pelos outros juízes no requerimento e, de consciência tranquila, concede a absolvição; embora ainda estejam por cumprir certas formalidades, ele concederá, sem dúvida alguma, a absolvição, a fim de ser agradável aos seus amigos e a mim próprio. Nessa altura, o senhor poderá sair do tribunal como um homem livre.» «Estarei, então, livre», disse K. duvidosamente. «Sim», respondeu o pintor, «mas apenas aparentemente livre ou, mais exactamente, temporariamente livre. A razão é que os juízes de categoria inferior, que são aqueles com quem mantenho as minhas relações de amizade, não têm poder para conceder a absolvição final, pois esse poder está restrito ao Supremo Tribunal, que é inacessível ao senhor, a mim e a todos nós. Quais as probabilidades, não sabemos e, devo dizer de passagem, nem estamos interessados em saber. Os nossos juízes não possuem, portanto, o grande privilégio da absolvição da culpa, mas têm, efectivamente, o direito de aliviar o acusado do peso que a culpa põe nos seus ombros. Isto quer dizer que, quando o senhor for absolvido desta maneira, ficará isento de culpa durante algum tempo, mas esta continuará a ameaçá-lo e pode, logo que surja uma ordem vinda de cima, atingi-lo de novo. Devido ao facto de as minhas relações com a gente do tribunal serem bastante intimas, também o posso informar de como, segundo os regulamentos das repartições do tribunal, é feita a distinção entre a absolvição definitiva e a aparente. »

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Capa do livro O Processo
Páginas: 183
Página atual: 125

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 25
Capítulo 3 39
Capítulo 4 59
Capítulo 5 65
Capítulo 6 71
Capítulo 7 88
Capítulo 8 132
Capítulo 9 158
Capítulo 10 179