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Capítulo 8: Capítulo 8

Página 146

Ainda de punhos cerrados, correu arras de K., que já levava um bom avanço. Ele meteu-se no quarto do advogado antes de ela o conseguir agarrar; K tentou fechar a porta atrás de si, mas Leni pôs um pé na porta e agarrou-o pelo braço, tentando puxá-lo para fora. K. agarrou-lhe o pulso e apertou-lho tanto que ela teve de o largar com um queixume. Não tentou de novo entrar, mas K., por segurança, deu uma volta à chave.

«Há muito tempo que estou à sua espera», disse o advogado da sua cama, colocando na mesinha-de-cabeceira um documento que tinha estado a ler à luz da vela e pondo os óculos, Traves dos quais examinava cuidadosamente K. Em vez de pedir desculpa, K. disse: «Não o vou demorar, senhor doutor.» Como este comentário não era uma desculpa, o advogado fez que não ouviu, dizendo: Não tornarei a recebe-lo a esta hora tão tardia.» «Isso está absolutamente conforme com as minhas intenções», retorquiu K. O advogado lançou-lhe um olhar interrogador e disse: «Sente-se.» «Já que mo pede», respondeu K., puxando uma cadeira para junto da mesa-de-cabeceira e sentando-se. «Suponho que fechou a porta à chave», disse o advogado. «Sim, fechei», respondeu K., «foi por causa de Leni.» Ele não estava a pensar em defender ninguém, mas o advogado continuou «Ela tem estado a atormentá-lo de novo?» IA atormentar-me?», perguntou K. «Sim», respondeu o advogado, rindo disfarçadamente até parar com um ataque de tosse, após o qual recomeçou a rir. «Suponho que não lhe passou despercebido que ela o atormenta?», inquiriu ele, batendo ao de leve com a mão na de K, que, por distracção a tinha pousada na mesinha-de-cabeceira e que apressadamente retirava agora. «Não lhe dá muita importância, continuou o advogado, visto que K. se conservava silencioso. «Tanto melhor. Senão, teria de lhe pedir desculpa pelo procedimento dela. E uma particularidade dela que há muito lhe tenho perdoado e que eu não mencionaria agora se não fosse o senhor ter fechado a porta à chave. Esta sua particularidade, bem, o senhor é a última pessoa a quem eu explico isto, mas parece estar tão perturbado que sinto que devo fazê-lo, esta sua particularidade consiste no facto de ela achar quase todos os acusados atraentes. Ela insinua-se a todos eles, ama-os a todos e o seu amor é evidentemente retribuído por eles; ela conta-me frequentemente estes enleios, apenas para me distrair, se eu consinto tal. Isto não me surpreende tanto como o surpreende a si. Se for sensível a estes assuntos, facilmente se aperceberá de como os acusados são, em regra, atraentes.

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Capa do livro O Processo
Páginas: 183
Página atual: 146

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 25
Capítulo 3 39
Capítulo 4 59
Capítulo 5 65
Capítulo 6 71
Capítulo 7 88
Capítulo 8 132
Capítulo 9 158
Capítulo 10 179