O Processo - Cap. 8: Capítulo 8 Pág. 151 / 183

Isto tem de acabar de uma vez para sempre, e por isso disse: «Que medidas se propõe tomar relativamente ao meu processo, se eu continuar a mantê-lo como meu representante?» O advogado aceitou docilmente mesmo esta pergunta insultuosa e respondeu: «Continuarei com as medidas com que comecei.» «Eu sabia disso», respondeu K. «Bem, é uma perda de tempo continuarmos a conversar.» «Farei mais uma tentativa», disse o advogado, como se fosse K. quem estava em falta, e não ele próprio. «Tenho a impressão de que o que o torna tão teimoso não só no seu julgamento da assistência jurídica que lhe dispenso, mas também no seu comportamento de uma maneira geral, é o facto de ter sido tratado demasiadamente bem, conquanto seja um acusado ou, para ser mais preciso, ter sido tratado com negligência, com aparente negligência. Essa negligência é sem dúvida justificável; é muitas vezes preferível estar na cadeia do que livre. Contudo, gostaria de lhe mostrar como são tratados outros acusados e talvez o senhor então aprenda umas coisas mais. Vou mandar entrar Block; destranque a porta e sente-se aqui ao lado da mesa-de-cabeceira» «Com todo o prazer», respondeu K., cumprindo as instruções recebidas; estava sempre pronto a aprender. Como precaução, no entanto, perguntou uma vez mais: «Já se apercebeu de que dispenso os seus serviços?» «Sim», disse o advogado, «mas o senhor ainda pode mudar de ideias.» Recostou-se novamente na cama, puxou o edredão até ao queixo e voltou-se para a parede. Então, tocou a campainha.

Leni entrou imediatamente, lançando rápidas olhadelas em volta, a fim de se aperceber do que se estava a passar; parecia ser para ela tranquilizante o facto de K. se encontrar sentado e calado ao lado da cama do advogado. Ela fez-lhe um sinal com a cabeça, sorrindo, mas ele fitou-a com um olhar perturbado. «Vai buscar Bloco, ordenou o advogado. Em vez de ir busca-lo, contudo, apenas chegou à porta e chamou: «Block! O senhor doutor chama-te!», e em seguida, provavelmente porque o advogado cstava voltado para a parede e lhe não prestava atenção, colocou-se atrás de K, perturbando-o durante o resto do tempo, quer encostando-se as costas da cadeira, quer percorrendo suave e carinhosamente os dedos pelos cabelos e pelas faces de K. Por fim, este procurou impedi-la de continuar, tentando agarrar-lhe a mão, a qual, após uma certa resistência, ela acabou por lhe retirar.





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