Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 8: Capítulo 8

Página 153

Foi, contudo, Block quem pagou pelo grito de K.; o advogado lançou-lhe a pergunta: «Quem é o seu advogado?» «O senhor doutor», respondeu Block. «E além de mim?», inquiriu de novo o advogado. «Não há mais ninguém», volveu Block. «Então, não prestes atenção a mais ninguém», ordenou o advogado. Block, escudando-se com estas palavras, deitou a K. um olhar furioso e abanou a cabeça violentamente para ele. Se aqueles gestos tivessem sido traduzidos por palavras, constituiriam um arrazoado insultuoso. E era este o homem com quem K. tinha querido discutir o seu próprio processo em termos amigáveis! «Não voltarei a intrometer-me», disse K., encostando-se na sua cadeira. «Ajoelhe-se no chão ou rasteje como quiser, não me incomodarei.» Contudo, Block ainda tinha um pouco de respeito por si próprio, pelo menos no que respeitava a K., pois avançou para ele de punhos no ar e gritou o mais alto que pôde, na presença do advogado: «O senhor não tem nada que me falar nesse tom. Que tem o senhor que me insultar? E então à frente do senhor doutor, que nos deixou entrar a ambos apenas por ter pena de nós! O senhor não é melhor do que eu, pois também é um acusado e esta tão envolvido num processo como eu. Se, no entanto, o senhor é também um cavalheiro, deixe-me que lhe diga que o sou tanto como o senhor, se não mais. E é assim que o senhor terá de se dirigir a mim, sim, especialmente o senhor. Se pensa que tem vantagem sobre mim por lhe ser permitido sentar-se ai, confortavelmente, a ver-me rastejar, como o senhor disse, deixe-me recordar-lhe o velho ditado: gente suspeita é melhor a andar do que parada, visto que parada pode estar sobre um prato de balança sem o saber, sendo pesada com os seus pecados.» K. não disse uma palavra, apenas fixava com espanto aquele doido. Que mudança se operara naquele sujeito naquela última hora! Teria sido o seu processo que o perturbara a tal ponto que nem era capaz de distinguir um amigo de um adversário? Não via ele que o advogado estava deliberadamente a humilhado, sem qualquer outro propósito que não fosse, nessa ocasião, exibir o seu poder perante K. e assim, talvez, intimidar K. para que este se submetesse? Contudo, se Block era incapaz de perceber isto, ou se tinha tanto medo do advogado que não se podia permitir percebe-lo. como é que tivera a coragem suficiente ou a suficiente astúcia para enganar o advogado e negar que recorrera a outros advogados? E como pôde ele ser nesciamente atrevido ao ponto de atacar K., sabendo que K. podia denunciar o seu segredo? A sua imprudência foi ainda mais longe: aproximou-se da cama do advogado e apresentou uma queixa contra K.

<< Página Anterior

pág. 153 (Capítulo 8)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Processo
Páginas: 183
Página atual: 153

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 25
Capítulo 3 39
Capítulo 4 59
Capítulo 5 65
Capítulo 6 71
Capítulo 7 88
Capítulo 8 132
Capítulo 9 158
Capítulo 10 179