O Processo - Cap. 8: Capítulo 8 Pág. 154 / 183

«Sr. Dr. Huld», disse ele, «ouviu o que este homem me disse? O processo dele tem apenas horas de existência comparado com o meu, no entanto, embora eu já esteja há cinco anos envolvido no meu processo, ele acha-se com autoridade para me dar conselhos. E, ainda por cima, abusa de mim. Não sabe nada e abusa de mim, de mim, que estudei tão profundamente quanto as minhas faculdades mentais o permitem todos os preceitos de dever, piedade e tradição.» «Não preste atenção a ninguém», respondeu-lhe o advogado, «e faça apenas o que achar correcto » «Com certeza», volveu Block, como que a dar confiança a si próprio, e, em seguida, olhando rapidamente de lado, ajoelhou-se junto à cama. «Estou de joelhos, Sr. Dr. Huld», disse ele. O advogado, contudo, nada respondeu. Block acariciou cuidadosamente o edredão com uma das mãos. Mo meio do silêncio que reinava agora, Leni disse, libertando-se de K.: «Estás a magoar-me. Larga-me! Quero ficar ao pé de Block.» Ela deu alguns passas e sentou-se na borda da cama. Block ficou muito satisfeito com a chegada dela; por meio de gastos, num espectáculo de mudos, implorava-lhe que intercedesse junto do advogado. Ele estava, sem dúvida, necessitadíssimo de qualquer informação que o advogado lhe pudesse dar, mas talvez ele apenas quisesse transmiti-la aos seus outros advogados, para. fazerem uso dela. Leni, aparentemente, sabia exactamente qual a maneira de lisonjear o advogado; ela apontou para a mão dele e estendeu os lábios como se fosse dar um beijo. Block imediatamente beijou a mão do advogado, o que repetiu mais duas vezes por instigação de Leni. O advogado, contudo, continuou persistentemente impassível Então, Leni debruçou-se sobre o rosto do advogado e afagou-lhe os longos cabelos brancos, salientando nesta posição as delicadas linhas do seu esbelto corpo. Esta foi a maneira de, finalmente, o advogado ser levado a responder. «Eu hesito em dizer-lhe», disse o advogado, e podia vê-lo a abanar a cabeça, possivelmente para melhor sentir o prazer que lhe dava a pressão exercida pelas mãos de Leni. Block escutava de olhos em baixo, como se, pelo simples facto de escutar, estivesse a infringir a lei. «Por que razão hesita?», perguntou Leni. K. tinha a sensação de estar a ouvir um diálogo bem ensaiado que tivesse sido repetido muitas vezes, que seria frequentemente repetido e que apenas para Block nunca perderia o sentido de novidade. «Como se tem portado ele hoje?», perguntou o advogado em vez de responder. Antes de responder, Leni olhou para Block e fitou-o por momentos, enquanto ele levantava as mãos para ela e as juntava de modo suplicante.





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