«O que acaba de me dizer não é de maneira nenhuma estúpido, Frau Grubach, pelo menos até partilho da sua opinião, com a diferença de que o meu julgamento é ainda mais severo: não vejo nisto nada de superior; acho é que é completamente inválido e oco. Fui apanhado de surpresa, é tudo. Se imediatamente depois de acordar me tivesse levantado, sem me preocupar com a ausência da Anna, e tivesse vindo procurá-la, sem contemplações por quem quer que tentasse barrar-me o caminho, podia ter tomado o pequeno-almoço na cozinha, para variar, e pedir-lhe que me trouxesse a minha roupa do meu quarto. Em resumo, com um pouco mais de sangue-frio, nada disto teria acontecido e o mal teria sido debelado à nascença. Mas uma pessoa é apanhada tão desprevenida! No Banco, por exemplo, estou sempre preparado, e, portanto, semelhante coisa nunca me aconteceria lá. Tenho o meu assistente particular e tanto o telefone geral como o do gabinete estão à minha frente, sobre a minha secretária; está sempre a entrar gente para me falar, quer clientes quer funcionários, e, acima de tudo, estou sempre absorvido com o trabalho e, por conseguinte, alerta. Teria sido um verdadeiro prazer para mim se uma situação desta natureza tivesse surgisse no Banco. Bem, isto agora são águas passadas e não tenciono falar mais sobre este assunto. Apenas quis saber a sua opinião, a opinião de uma mulher sensata, e sinto-me satisfeito por estarmos de acordo. Contudo, como um acordo como este deve ser selado com um aperto de mão, estenda-me pois a sua mão.»
Irá ela estender-me a mão? O Inspector não o fez, pensou, mirando a mulher com um olhar diferente, um olhar critico. Ela levantou-se, em virtude de ele se ter levantado também, e ficou algo embaraçada por não ter entendido nada do que ele estivera a dizer. Devido ao seu embaraço, Frau Grubach titubeou qualquer coisa que não tinha intenção de dizer e que não vinha muito a propósito. «Não tome isso muito a sério, Herr K.», disse ela com um nó na garganta, esquecendo-se, naturalmente, de lhe estender a mão. «Não fazia ideia de que eu estava a levar isto a sério!», exclamou K, sentindo-se de repente esgotado e consciente da pouca importância que teria o facto de ela concordar ou não com ele.
