O Processo - Cap. 9: Capítulo 9 Pág. 166 / 183

Era tão pequeno que à distancia parecia um nicho vazio destinado a qualquer imagem. Nem sequer havia certamente espaço para o pregador dar um passo para trás a partir da balaustrada. A abóbada do dossel de pedra também começava muito em baixo e fazia de tal modo uma curva para a frente e para cima, embora sem a mínima ornamentação, que um homem de estatura mediana não poderia conservar-se direito atrás dela, mas teria de se inclinar sobre a balaustrada. Toda a estrutura parecia ter sido desenhada para torturar o pregador; não parecia haver uma ramo aceitável para que aquele púlpito ali existisse, tanto mais que havia outro tão grande e tão primorosamente decorado.

K. não teria certamente reparado nele se, por cima do mesmo, não tivesse acesa uma lâmpada, que é o sinal tradicional quando se vai começar a pregar um sermão. Seria que iriam começar agora a dizer um sermão? E com a igreja vazia? K. olhou para baixo, para os degraus que conduziam ao púlpito, abraçando o pilar à medida que subiam e tão estreitos que pareciam mais adornos do pilar do que uma escada para seres humanos. Mas lá em baixo — sorriu de surpresa — havia na realidade um padre pronto para subir, com a mão na balaustrada e os olhos fixos em K. O padre fez um pequeno aceno e K. persignou-se e retribuiu a vénia, o que já devia ter feito antes. O padre deu um leve impulso para subir a escada em direcção ao púlpito, com passas curtos e rápidos. Iria ele realmente pregar um sermão? Talvez o sacristão, afinal, não fosse tão imbecil como o julgara e estivesse apenas a apressar K. em direcção ao padre, o que se tornava bastante necessário naquele edifício vazio. Contudo, aqui ou ali via-se uma velha perante uma imagem da Virgem. E se ia haver um sermão, por que razão não tocavam o órgão como introdução? Mas o órgão continuava silencioso, com os seus tubos brilhando vagamente na escuridão





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