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Capítulo 9: Capítulo 9

Página 176

Mas ele está também enganado acerca da sua relação com o homem vindo do campo, pois ele é inferior ao homem e não o sabe. Assim, trata-o como seu subordinado, como se pode observar através de muitos pormenores que ainda devem estar frescos na tua memória. Contudo, de acordo com esta interpretação da história, está também claramente indicado que ele é, efectivamente, subordinado do homem. Em primeiro lugar um servo está sempre subordinado a um homem livre. Agora o homem do campo é realmente livre, pode ir para onde quiser, somente a Lei lhe é vedada e o acesso a ela é-lhe proibido apenas por um individuo, o porteiro. Quando se senta no banco, ao lado da porta, e ai permanece durante o resto da sua vida, fá-lo de sua livre vontade; na história, não se faz alusão a qualquer acto compulsivo. O porteiro, todavia, está vinculado ao seu posto pelo seu próprio cargo, não se atreve a sair para o campo nem, aparentemente, pode entrar no interior da Lei, mesmo que o queira fazer. Além disso, conquanto esteja ao serviço da Lei, a sua actividade limita-se a esta entrada, ou seja, serve apenas este homem, para quem a entrada é unicamente destinada. Também neste campo ele é inferior ao homem. Temos de admitir que, durante muitos anos, tantos quantos um homem leva a atingir a força da vida, o seu serviço foi, num certo sentido, uma formalidade vazia, visto que teve de aguardar a chegada de um homem, isto é, de alguém na força da vida, tendo sido assim obrigado a esperar muito tempo antes de poder cumprir a missão que o seu serviço lhe impunha, e, mais ainda, teve de se sujeitar à disposição do homem, visto que este veio de sua livre vontade. Mas o fim do seu será iço também depende do fim da vida do homem, de tal modo que está subordinado a este mesmo até ao fim. E está sempre salientado através de toda a história que o porteiro, aparentemente, não compreende nada disto, o que, só por si, não é importante, visto que, de harmonia com esta interpretação, o porteiro afinal se engana muito mais profundamente, o que afecta o seu próprio emprego. No fim, por exemplo, ele diz, olhando para a entrada da Lei: 'Vou agora fechá-la, mas, no início da história, é-nos dito que a porta da Lei se conserva sempre aberta e, se se conserva sempre aberta, isto é, permanentemente, independentemente da vida ou da morte do homem, então o porteiro não pode fechá-la. Existe uma certa divergência de opiniões quanto ao motivo para lá da declaração do porteiro, quer ele dissesse que ia fechar a porta apenas para dar uma resposta quer para realçar a sua devoção pelo dever, quer ainda pata levar o homem a um estado de aflição e de desgosto nos seus últimos momentos de vida.

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Capa do livro O Processo
Páginas: 183
Página atual: 176

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 25
Capítulo 3 39
Capítulo 4 59
Capítulo 5 65
Capítulo 6 71
Capítulo 7 88
Capítulo 8 132
Capítulo 9 158
Capítulo 10 179