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Capítulo 9: Capítulo 9

Página 177

Não há, no entanto, falta de unanimidade quando se afirma que o porteiro não será capaz de fechar a porta. Muitos, sem dúvida, professam a opinião de que ele está subordinado ao homem até mesmo em conhecimentos, pelo menos no fim, visto que o homem vê o esplendor que provem da porta da Lei, enquanto o porteiro, que, na sua posição oficial, deve permanecer de costas para a porta, nada diz que mostre ter vislumbrado a modificação.» «Esse argumento está correcto», disse K, depois de ter repetido pata si próprio, em voz baixa, várias passagens da exposição do padre. «Está bem observado e inclino-me a concordar que o porteiro está enganado. Contudo, isso não me leva a abandonar a minha primeira opinião, dado que ambas as conclusões são, em certa medida, compatíveis. Quer o porteiro veja claramente quer esteja enganado, não interessa para o caso. Eu disse que o homem está enganado. Se o porteiro vê claramente, podem ter-se dúvidas a esse respeito, mas, se o próprio porteiro se enganou, então o seu engano deve, necessariamente, ser transmitido ao homem. Esse facto torna o porteiro, não verdadeiramente um impostor, mas uma criatura tão ingénua que deve ser destituído do seu cargo quanto antes. Não te deves esquecer de que os enganos do porteiro não causam a ele próprio mal algum, ao passo que prejudicam infinitamente o homem.» «Há objecções contra isso», disse o padre. Muitos afirmam que a história não confere a ninguém o direito de julgar o porteiro. Pareça o que parecer, ele é ainda um servo da Lei; quer dizer que pertence à Lei e, como tal, está para além do julgamento humano. Neste caso, não se deve acreditar que o porteiro esteja subordinado ao homem. Limitado como está pelo seu serviço, ainda que apenas à porta da Lei, ele é incomparavelmente maior do que qualquer criatura em liberdade no mundo. O homem apenas procura a Lei, ao passo que o porteiro está já ligado a ela. Foi a Lei que o colocou no seu posto; duvidar da sua dignidade é duvidar da própria Lei.» Anão concordo com esse ponto de vista», disse K., abanando a cabeça, «porque, se uma pessoa aceita isso, então deve aceitar como verdadeiro tudo o que o porteiro disser. Mas você próprio, senhor padre, mostrou já suficientemente quanto isso é impossível.» «Não», retorquiu o padre, «não é necessário que se aceite tudo como verdadeiro; tem apenas de se aceitar como necessário.» «É uma triste conclusão», volveu K. «Isso é tornar a mentira um princípio universal.»

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Capa do livro O Processo
Páginas: 183
Página atual: 177

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 25
Capítulo 3 39
Capítulo 4 59
Capítulo 5 65
Capítulo 6 71
Capítulo 7 88
Capítulo 8 132
Capítulo 9 158
Capítulo 10 179