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Capítulo 9: Capítulo 9

Página 175

E, finalmente, em resposta a um gesto do homem, baixa-se para lhe dar a possibilidade de ele lhe fazer a sua última pergunta. Nada, excepto uma leve impaciência, o porteiro sabe que isto é o fim de tudo, é discernível nas palavras: 'Você é insaciável.' Alguns levam esta maneira de interpretar ainda mais longe e afirmam que estas palavras expressam uma espécie de cordial admiração, se bem que não desprovidas de um certo ar de condescendência. De qualquer modo, pode dizer-se que a figura do porteiro surge de uma forma muito diferente daquela que imaginaste.» «O senhor padre teve oportunidade de estudar a história mais pormenorizadamente e durante mais tempo do que eu», disse K. Ficaram ambos em silêncio por uns momentos. Então, K. perguntou: «O senhor acha então que o homem não foi enganado?» «Não me interpretes mal», volveu o padre; «estou apenas a mostrar-te as diversas opiniões relativamente a este ponto. Não lhe deves atribuir muita importância. As escrituras são inalteráveis e os comentários, as mais das vezes, expressam simplesmente o desespero dos comentadores. Neste caso, existe mesmo uma interpretação que afirma que a pessoa enganada é realmente o porteiro.» «Isso é uma interpretação forçada», respondeu K. «Em que se baseou ela?» «Baseou-se», retorquiu o padre, «na simplicidade de espírito do porteiro. O argumento é que ele desconhece a Lei por dentro, conhece somente o caminho que leva até lá e que ele patrulha para cima e para baixo. Admite-se que as suas ideias acerca do interior sejam infantis e mesmo que ele próprio receie os outros guardas, que apresenta como demónios perante o homem. Na realidade, ele teme-os mais ainda do que o homem, visto que este está resolvido a entrar mesmo depois de ter ouvido falar acerca dos horrendos guardas do interior, enquanto o porteiro não tem vontade de entrar, como, aliás, nos é dito. Outros dizem ainda que ele já deve ter estado no interior, dado que, apesar de tudo, trabalha ao serviço da Lei e só pode ter sido designado do interior. Isto é rebatido com o argumento de que ele deve ter sido designado por uma voz vinda do interior e que, de qualquer modo, não pode ter estado muito no interior, já que a aparência do terceiro guarda lhe é insuportável. Além disso, não é mencionado que durante todos estes anos ele tenha feito qualquer observação que deixe transparecer qualquer reconhecimento do interior, a não ser os seus comentarias à aparência dos guardas. Pode ter sido proibido de o fazer, mas também não há menção a esse facto. Nesta base, a conclusão que se tira é que ele desconhece completamente o aspecto e o significado do interior, encontrando-se, portanto, num estado de ilusão.

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Capa do livro O Processo
Páginas: 183
Página atual: 175

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 25
Capítulo 3 39
Capítulo 4 59
Capítulo 5 65
Capítulo 6 71
Capítulo 7 88
Capítulo 8 132
Capítulo 9 158
Capítulo 10 179