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Capítulo 9: Capítulo 9

Página 178

K. disse isto com a ideia de terminar, mas não foi esta a sua última opinião. Sentia-se demasiado fatigado para examinar todas as conclusões que a história sugeria e a cadeia de pensamentos a que ela o conduzia eram-lhe pouco familiares, dizendo respeito a subtilezas mais apropriadas a um tema para discussão entre os membros do tribunal do que para ele. A simples história tinha perdido o seu contorno nítido, desejava expulsá-la da sua memória e o padre, que demonstrava agora grande delicadeza de sentimentos, tolerava a sua atitude e aceitava as suas observações em silêncio, embora, sem dúvida, não concordasse com elas.

Durante algum tempo passearam silenciosamente para trás e para diante, K. caminhando ao lado do padre e ignorando o que o rodeava. A lâmpada na sua mão há muito que se apagara. A imagem de prata de qualquer santo brilhou repentinamente à sua frente, devido ao seu próprio resplendor, mas instantaneamente o reflexo se perdeu de novo na escuridão. A fim de não continuar totalmente dependente do padre, K. perguntou: «Não estamos ainda próximo da porta principal?" «Não», respondeu o padre, «estamos muito longe dela. Queres sair já?» Embora, nessa altura, K. não tivesse pensado em partir, respondeu imediatamente: Com certeza, tenho de ir. Sou o gerente do Banco e esperam por mim, pois apenas aqui vim para mostrar a catedral a um amigo de negócios vindo do estrangeiro.» «Bem», disse o padre, estendendo a mão a K., «então vai.» «Mas não consigo descobrir o caminho sozinho, no meio desta escuridão», volveu K. «Vira à esquerda até à parede, depois segue ao longo da parede e encontrarás uma porta», disse o padre. O padre já tinha dado um ou dois passos, afastando-se, mas K. gritou, em voz alta: dum momento, por favor.» «Estou à espera», respondeu o padre. «Não deseja nada mais de mim?», inquiriu K. «Não», respondeu o padre. «O senhor padre foi tão compreensivo para comigo», disse K., «e deu-me explicações tão concisas, e agora deixa-me partir como se não se preocupasse absolutamente nada comigo.» «Mas tu é que tens de te ir agora embora», volveu o padre. «Bem», é verdade», volveu K.; «tem de compreender que nada mais posso fazer.» «Tens de saber primeiro quem eu sou», retorquiu o padre. «O senhor é o capelão da prisão» disse K., tacteando o seu caminho para de novo se aproximar do padre; o seu regresso imediato ao Banco não era tão imperioso como ele acabara de afirmar, pois poderia muito bem ficar ainda mais algum tempo. «Isso significa que pertenço ao tribunal», disse o padre. «Deste modo, por que razão havia eu de querer alguma coisa de ti? O tribunal nada quer de ti. Recebe-te quando chegas e despede-se de ti quando partes.»

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Capa do livro O Processo
Páginas: 183
Página atual: 178

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 25
Capítulo 3 39
Capítulo 4 59
Capítulo 5 65
Capítulo 6 71
Capítulo 7 88
Capítulo 8 132
Capítulo 9 158
Capítulo 10 179