O Processo - Cap. 2: Capítulo 2 Pág. 26 / 183

O subgerente sentira-se com certeza humilhado por lhe fazer este convite, se bem que ele quisesse aparentar que estava a fazê-lo casualmente enquanto esperava pela ligação telefónica. Todavia, K. sentiu que ia humilhá-lo pela segunda vez ao responder «Agradeço, mas no domingo não me é possível, pois já tenho um compromisso.» «Que pena!», disse o subgerente, voltando-se para atender a chamada cuja ligação acabava de ser feita.

Não era uma conversa curta, mas K., na sua confusão, manteve-se junto do aparelho durante todo o tempo. Só quando o subgerente desligou é que ele acordou da sua distracção, dizendo, para se desculpar do facto de ter estado ali especado sem finalidade alguma: «Acabo de receber um telefonema a pedirem-me que vá a um sítio, mas esqueceram-se de me dizer a que horas.» «Então telefone-lhes e pergunte», sugeriu o subgerente. «Não é assim muito importante», retorquiu K., embora, ao dizer isto, invalidasse ainda mais a sua primeira desculpa, já de si coxa. O subgerente, ao voltar-se para sair, continuou a falar, mas acerca de outros assuntos. K. esforçava-se por responder, mas o que ele efectivamente pensava era que o melhor seria ir àquela direcção no domingo às nove horas da manhã, visto que essa era a hora a que todos os tribunais começavam o seu trabalho nos dias úteis.

O domingo estava sombrio. K. ia-se deixando dormir por na véspera ter estado a pé até tarde no restaurante, por causa de uma festa. Apressadamente, sem tempo para pensar ou coordenar os planos que tinha arquitectado durante a semana, vestiu-se e saiu a correr, sem ter tomado o pequeno-almoço, em direcção ao local fora de portas que lhe tinha sido Indicado. Embora mal tivesse tempo para observar os transeuntes, avistou os três funcionários do Banco já envolvidos no seu caso: Rabensteiner, Kullich e Kaminer. Os dois primeiros viajavam num transporte público que atravessou à sua frente, mas Kaminer estava sentado no terraço de um café e debruçou-se, curioso, da balaustrada justamente quando K. ia a passar. Os três tinham-no provavelmente fitado, perguntando a si próprios para onde iria o seu chefe tão apressadamente. K. sentiu uma espécie de expulsa em apanhar um carro para o seu destino; repetiu mesmo a ideia de procurar alguém, ainda que fosse um estranho qualquer, para o ajudar neste seu caso; também não queria ficar a dever favores a ninguém ou dar a conhecer a alguém, ainda que remotamente, os seus problemas; e, finalmente, não queria sentir-se diminuído perante o Tribunal de Inquérito por ser demasiadamente pontual. No entanto, ele apressava-se de maneira a chegar às nove horas, se possível, ainda que nem sequer lhe tivessem pedido que comparecesse a uma hora determinada.





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