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Capítulo 2: Capítulo 2

Página 27

Pensara que a casa seria fácil de reconhecer, mesmo à distancia, por qualquer sinal que não conseguia imaginar qual fosse ou por haver um aglomerado invulgar de pessoas à porta. Mas a Juliusstrasse, onde se dizia que ficava a casa e ao fim da qual ele parou por um momento, mostrava de ambos os lados casas quase exactamente semelhantes, habitações altas e cinzentas onde vivia gente pobre. Sendo domingo de manhã, a maioria das janelas estava ocupada por homens encostados, em mangas de camisa, fumando ou segurando criancinhas nos parapeitos das janelas, com cuidado e ternura. Outras janelas estavam cheias de pilhas altas de colchões e roupas de cama, por cima das quais aparecia, de um momento para o outro, a cabeça desgrenhada de uma mulher. Pessoas gritavam umas para as outras de ambos os lados da rua; um grito justamente por cima da cabeça de K. ocasionou grandes risadas. Ao longo da rua, a espaços regulares e abaixo do nível do pavimento, havia pequenas lojas de mercearia, sendo o acesso às mesmas feito através de curtos lanços de degraus. Mulheres apinhavam-se lá dentro e cá fora, ou tagarelavam nos degraus. Um vendedor ambulante de fruta, que apregoava, virado para as janelas, a sua mercadoria, avançando quase tão distraído como K., ia atropelando este com a sua carroça. Um fonógrafo que já fizera bom serviço num bairro melhor da cidade começou a assassinar estridentemente uma cantiga.

K., penetrando mais profundamente na rua, caminhava agora mais devagar, como se tivesse muito tempo à sua frente ou o juiz estivesse debruçado de uma das janelas a ver que ele ia a caminho. Passava um pouco das nove horas. A casa ficava lá para o fim da rua e tinha um comprimento pouco vulgar, sendo o portão principal particularmente alto e largo. Era obviamente um portão para permitir o acesso a camiões: as portas trancadas de vários armazéns circundavam o pátio e exibiam nomes de firmas, algumas das quais eram conhecidas de K. através dos livros bancários. Contra o que era seu hábito, K observou atentamente a aparência exterior delas e parou por uns momentos à entrada do pátio. Próximo dele um homem descalço, sentado numa grade, lia um jornal. Dois moços balançavam-se num carrinho-de-mão. Uma rapariguinha de compleição débil estava em camisa junto a uma bomba de água e olhava finamente para K., enquanto a água corria para dentro do seu balde. Num canto do pátio tinham esticado uma corda entre duas janelas e a roupa lavada já tinha sido pendurada para secar. Um homem que se encontrava em baixo superintendia o trabalho, dando um berro de vez em quando.

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Capa do livro O Processo
Páginas: 183
Página atual: 27

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 25
Capítulo 3 39
Capítulo 4 59
Capítulo 5 65
Capítulo 6 71
Capítulo 7 88
Capítulo 8 132
Capítulo 9 158
Capítulo 10 179