O Processo - Cap. 2: Capítulo 2 Pág. 38 / 183

Que caras o rodeavam! Olhos pequenas e negros apareciam furtivamente de todos os lados, as barbas eram ralas e fracas, as mãos que as cofiavam faziam lembrar molhos de garras que ficavam à vista em vez das barbas que elas encobriam. Mas, por debaixo das barbas —e esta foi uma verdadeira descoberta para K.—, insígnias de vários tamanhos e de varias cores brilhavam nas golas dos casacos. Tanto quanto lhe era possível ver, todos eles usavam estas insígnias. Eram todos colegas, membros dos dois partidos ostensivos—o da direita e o da esquerda. Quando de repente se voltou, viu as mesmas insígnias na gola do casaco do Juiz de Instrução, que estava sentado presenciando tranquilamente a cena, com as mãos apoiadas nos joelhos. «Com que então», gritou K., erguendo os braços—a luz que de repente se lhe fizera no espírito tinha de se expandir—, «sois todos funcionários, sois os corruptos auxiliares acerca de quem tenho estado a falar; acorrestes todos aqui para me ouvir e averiguar tudo o que fosse possível a meu respeito e, simulando uma divisão partidária, cerca de metade de vós aplaudiu simplesmente para que eu prosseguisse e vós pudésseis divertir-vos à custa de um inocente. Pois bem, espero que tenhais lucrado com isso, pois ou vós vos divertistes com o facto de eu ter esperado que defendêsseis os inocentes ou então... «largue-me, senão chego-lhe», gritou K. a um velho trémulo que se tinha aproximado de mais dele, «conseguistes aprender qualquer coisa. E depois de tudo isto, despeço-me, desejando-vos felicidades nesta vossa profissão.» Pegou apressadamente no chapéu, que estava na borda da mesa, e, no meio do silêncio geral, causado pela completa estupefacção, se não por algo mais, abriu caminho até à porta. Contudo, o Juiz de Instrução, aparentemente mais rápido do que ele, estava à porta à sua espera. «Um momento», disse ele. K estacou, mas conservou os olhos na porta, não no Juiz de Instrução. lá tinha a mão no puxador da porta. «Eu apenas gostaria de chamar a sua atenção para o facto», disse o Juiz de Instrução, «de que hoje... talvez o senhor ainda se não tenha apercebido disso... o senhor lançou fora todas as vantagens que um interrogatório possibilita sempre a um acusado.» K. riu-se, olhando ainda para a porta. «Patifes, dispenso bem os vossos interrogatórios», gritou, abrindo a porta e descendo rapidamente as escadas. Atrás dele levantou-se o murmúrio de uma animada discussão, pois a assistência regressava aparentemente à vida e todos analisavam a situação como estudantes aplicados.





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