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Capítulo 2: Capítulo 2

Página 37

Mas, considerando a falta de senso que há em tudo isto, que possibilidades têm os funcionários superiores de evitar a indecorosa corrupção dos seus auxiliares? Nem mesmo o juiz mais eminente desta organização conseguiria opor-se-lhe. Desta forma, os guardas tentam apoderar-se das roupas dos presas, os inspectores entram à força em casas estranhas, homens inocentes são humilhados em assembleias públicas, em vez de serem justamente interrogados. Os guardas mencionaram a existência de certos armazéns onde os pertences dos prisioneiros são guardados; gostaria de ver os ditos armazéns, onde afinal os pertences dos presas, ganhos à custa de tanto trabalho, são deixados a apodrecer, ou, pelo menos, o que resta deles, depois de funcionários desonestos se terem servido.»

Aqui K. foi interrompido por um grito vindo do fundo da sala. Pôs a mão em pala por cima dos olhos para conseguir ver o que se passava, nisto que o fumo juntamente com a luz obscura havia originado uma espécie de névoa esbranquiçada. Era a lavadeira, que K. reconheceu como urna causa potencial de perturbação a partir do momento em que entrou na sala. Não se podia afirmar se era ela ou não a verdadeira culpada. Tudo o que ele podia ver era que um homem a tinha conduzido para um canto perto da porta e a abraçava. Todavia, não tinha sido ela quem soltara o grito, mas sim o homem, pois conservava ainda a boca completamente aberta e os olhos fixos no tecto. Formou-se um pequeno círculo à volta deles e os espectadores da galeria, próximo deles, pareciam ter ficado deleitados com o facto de a gravidade com que K. apresentara o caso ter sido dissipada desta maneira. O primeiro impulso de K. foi correr até ao fundo da sala, pois, naturalmente, pensou que toda a gente estaria ansiosa por restabelecer a ordem e expulsar dali o casal causador do distúrbio. No entanto, as primeiras filas da assistência conservaram-se imóveis, e não só ninguém se mexeu como também ninguém consentiu que ele passasse. Pelo contrário, e, efectivamente, obstruíram-lhe a passagem, tendo a mão de alguém—ele não teve tempo de se voltar—agarrado K. pela parte de trás do colarinho, enquanto velhos estendiam os braços para lhe barrarem o caminho, de modo que nesta altura K. já não pensava no casal e tinha simplesmente a sensação de que a sua liberdade estava a ser ameaçada, de que estava realmente preso, e desceu descuidadamente do estrado. Encontrou-se então frente a frente com a multidão. Ter-se-ia ele enganado com esta gente? Teria ele sobrestimado a eficiência do seu discurso? Teriam eles estado a dissimular as suas verdadeiras opiniões enquanto ele falava e agora, que chegara ao fim do seu discurso, é que se mostravam cansados de todo aquele fingimento?

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Capa do livro O Processo
Páginas: 183
Página atual: 37

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 25
Capítulo 3 39
Capítulo 4 59
Capítulo 5 65
Capítulo 6 71
Capítulo 7 88
Capítulo 8 132
Capítulo 9 158
Capítulo 10 179